Bairro Siqueira das décadas de 70 e 80 é relembrado em livro
21/11/2021
Por Andréa Moura
Palco de grandes acontecimentos artísticos, culturais e políticos, a exemplo dos comícios realizados pelos partidos MDB e Arena no período da ditadura militar; e das manifestações pela redemocratização do Brasil, o bairro Siqueira Campos, um dos maiores da capital sergipana, deu origem ao mais novo livro da Profa. Dra. Tereza Cristina Cerqueira da Graça: “Malinos, zuadentos, andejos e sibites: o Aribé nos anos 70 e 80”.
A obra está dividida em três capítulos: “Malinos, zuadentos: a música e o teatro do Aribé”; “Andejos e sibites nas diversões da cidade”; e “É do Siqueira? É gente boa! Outros personagens da memória aribeana”. Tem, ainda, uma conclusão sobre a obra intitulada “Que venham mais malinadas, zoadas e sibitezas: andejando numa conclusão”.
As quase 500 páginas do livro estão recheadas não apenas de informação, mas de imagens antigas e atuais das personagens citadas. Dentre elas está Hilton Lopes, jornalista e radialista (depois de ter exercido diversos outros ofícios), boêmio e agitador cultural da vida aracajuana, principalmente, da existente no Siqueira Campos.
O Aribé das décadas de 70 e 80 tinha vários bares, restaurantes, uma boate, três cinemas e o primeiro bar declaradamente gay da cidade, o Caça. De lá saíram vários nomes da música, como o Grupo Repente; o cantor José Antônio, o Brasinha, que se destacou aos 11 anos de idade cantando em programas de auditório realizados nos cinemas, tendo sido, inclusive, o cantor revelação de 1968 no programa de Zé Trindade, realizado no Cine Vitória.
Na década de 80, a intelectualidade e a classe artística frequentavam o chorinho do Carlito, ou os bares “do Careca” e “do Estudante”. Instituições existentes no local também foram importantes para a vida cultural e artística do Siqueira, a exemplo do Sesc e do Sindipema.
Noite do lançamento
O lançamento do livro aconteceu na noite da última sexta-feira, 19 de novembro, na área livre da Escola Municipal de Educação Infantil José Garcez Vieira, localizada na praça do Siqueira. O evento contou com centenas de amigos, moradores da região, e pessoas que tiveram as vidas impactadas pela força cultural do bairro no período auge do Siqueira Campos.
Dentre essas pessoas estavam os cantores Sergival e Lucinha Fontes, e o grupo Black Samba, criado há 43 anos e cujos integrantes ainda se juntam para fazer som, como aconteceu no lançamento do livro. Aliás, de homenageados pela obra passaram a artistas da noite, pois, cada um deu uma “palhinha” para animar o evento.
A noite foi prestigiada, também, por intelectuais, como o ex-secretário de estado da Educação, Jorge Carvalho; e autoridades políticas, a exemplo da vice-governadora de Sergipe, Eliane Aquino, e do prefeito de São Cristóvão, Marcos Santana.
Nas redes sociais, Eliane Aquino escreveu: “o livro é um resgate histórico do bairro Siqueira Campos, o antigo Aribé. Sem dúvida, uma leitura prazerosa tanto para quem deseja rememorar essa época, como para quem, como eu, deseja conhecer mais sobre a história da nossa querida Aracaju”.
Embora o Siqueira fosse o centro nervoso da vida cultural aracajuana nas décadas de 70 e 80, muita coisa acontecia também fora das cercanias do local. O fato de os jovens siqueirenses prestigiarem os eventos de outros locais da cidade fez com que Tereza Cristina os denominasse como andejos, eis a explicação para um dos quatro adjetivos contidos no título da obra.
A pesquisa
“O livro é um passeio por Aracaju, por onde havia cultura e arte, e essa caminhada é resgatada na obra”, enfatiza. Questionada se seria possível comparar o Siqueira antigo com algum bairro aracajuano da atualidade, a autora diz que não. Segundo ela, o que fazia o Aribé ser diferente e pujante era o fato de a comunidade não ser mera expectadora, mas, artista principal de tudo o que acontecia, algo que não é encontrado em outros pontos aracajuanos atualmente.
As pesquisas para a obra foram iniciadas em março de 2017, e a ideia inicial era lançar o livro em 2020, dentro das comemorações pelos 200 anos de Independência de Sergipe, o que não aconteceu em virtude da pandemia de Covid-19.
Nascida e criada na rua Bahia, no ano de 1983, casada e com o primeiro filho, Tereza Cristina muda-se para rua São Cristóvão, no Bairro Getúlio Vargas. “Não era mais o Aribé, mas fui para bem pertinho, porque podia ir a pé até o Siqueira para fazer todas as minhas coisas, supermercado, pagamentos, bancos, ter lazer...”, relembra. Em 2003 ela e a família mudam-se para o Bairro Atalaia, mas, mesmo assim, não cortou as raízes.
A autora afirma que o processo de pesquisa para a composição de Malinos foi muto gostoso, quase uma catarse pessoal provocada ao rever pessoas, refazer amizades e trazer à tona memórias que estavam guardadas na memória. “Certa vez fui ao Valentino para fazer entrevistas. O Valentino é um bar antigo do Siqueira, localizado na rua Bahia, em frente ao Sesc, e de repente começaram a tocar violão, aí virou festa”, lembra Tereza Cristina aos risos.
Se você está curioso para saber por que o Siqueira Campos ainda é chamado de Aribé, ou para conhecer as histórias de personalidades homenageadas, a exemplo de José Augusto Sergipano, Lucinha Fontes, do cantor e compositor Pantera, do juiz de Direito e cantor Sérgio Lucas, e o saudoso Hilton Lopes, é só entrar em contato com Victor Wladimir Cerqueira, pelo Instagram @victorwcn. O livro está sendo vendido por R$ 65 e a entrega, em Aracaju, é gratuita, acontecendo em até 24h após a compra.
Sobre a autora
Doutora em Educação pela PUC-RS e mestre em Educação pela UFS, é graduada em Pedagogia e especialista em Ciências Sociais. É professora aposentada das redes públicas municipal de Aracaju, e estadual. De 2005 a 2011, atuou como secretária da Educação de Aracaju. É 2ª Vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Tereza Cristina Cerqueira da Graça é autora de diversos artigos e textos que foram publicados em jornais e periódicos, e de livros que foram escritos individualmente ou em parceria, como “Sociedade e Cultura Sergipana” (2000); “Pés-de-Anjo e letreiros de Neon: ginasianos na Aracaju dos Anos Dourados” (2002); “De Massaranduba à Industrial” (2003); e “A Trajetória do Conselho Estadual de Educação de Sergipe” (2013).