Gato escondido, mas com o rabo filmado: na era do smartphone a demagogia está desnuda

21/06/2020


Dezenas de artistas estão fazendo shows pela Internet, porém, todos com a mínima infraestrutura possível, seja de músicos ou de técnicos para a transmissão e, quando a banda está em cena é possível perceber o cumprimento de regras sanitárias vigentes, como uso de máscara por todos, com exceção do cantor, claro, e distanciamento social. Um bom exemplo foi a live de Ivete Sangalo, realizada também na noite do dia 20/06, sem um músico sequer no cenário, mas, nem por isso, deixou de ser técnica e artisticamente impecável.

Na mesma noite o cantor sergipano Kaelzinho Ferraz, o garoto “brabo”, como ele se autodenomina, também fez uma live. O cenário foi montado na Fazenda e Haras 90, no município sergipano de Arauá. Fazer live tudo bem, afinal de contas, isto se tornou mais comum que lavar as mãos a cada dois minutos em virtude do novo coronavírus. Porém, o problema residiu no fato de ter acontecido tudo, mas tudo o que não poderia ocorrer: aglomeração de pessoas no Haras e, muitas vezes, em cima do palco.

A live foi transformada em um show privê, não sei se por causa do aniversário do deputado Federal Valdevan 90, que estava no local, ganhou os parabéns em forma de música, salva com queima de fogos de artifício e discursou ao lado do cantor e do vice-prefeito do município de Arauá, Rafael Lima, outro nítido apoiador do evento.

Ah, mas o menino brabo poderia não saber que a live teria aquela quantidade de gente, que se transformou (se é que já não nasceu com este intuito) em uma festa com direito a comida, bebida e muito calor humano. Concordo. Porém, dar exemplo é sempre bom, ainda mais partindo de pessoa pública. Ele poderia ter recusado, ter botado o “pé na parede” e exigido que tudo fosse diferente.

Exemplo, ou melhor, BOM exemplo também é o que deve ser dado por aqueles que foram eleitos pelo povo para gerir a coisa pública e lutar em defesa do bem-estar social. Nesta época de pandemia e com as pessoas afoitas a mostrarem que estavam por aí lacrando, o tão famoso faça o que eu digo e não faça o que eu faço, deixou de ser anônimo.

A imagem está desfocada para não identificar as pessoas que participaram da festa

No estado de Sergipe está em vigor um decreto que proíbe aglomerações, festas e afins, sejam elas públicas ou privadas, e um bom parlamentar deve ser aquele cidadão cumpridor das leis vigentes, mesmo que não goste ou concorde com o que está em voga e, para os que não concordam há apenas um caminho: a Justiça.

Agora, um conselho para as marcas que apoiaram a live: tratem, urgentemente, de explicar porque apoiaram uma festa (que nem poderia acontecer) com dezenas de pessoas (inclusive crianças) curtindo, bebendo e cantando, sem respeitar qualquer regra sanitária imposta para evitar a transmissão do novo coronavírus.

Saibam que as marcas que sairão fortalecidas dessa pandemia e terão o respeito da população não serão aquelas que apareceram em dezenas de lives, mas, aquelas que demonstraram ter responsabilidade social e empatia à dor de mais de 50 mil famílias que choram pelos familiares mortos pela COVID-19. Claro, as que patrocinaram lives também terão o seu “quinhão”, porém, as lives que tinham como objetivo principal ajudar a salvar mais vidas e não a colocar muitas outras em risco.

E, para finalizar: sabiam que Arauá, município com 10.056 habitantes, segundo a estimativa do IBGE (2019), tinha registrado, até a noite da “bela” festa, 23 casos confirmados de COVID-19 e quatro mortes em decorrência da doença? Com a palavra, os envolvidos, mas, principalmente, o Governo do Estado e o Ministério Público Estadual de Sergipe. (Fotos: Reprodução do canal do Youtube do cantor e de vídeos que circulam nas redes sociais)



Comentários

Nenhum Resultado Encontrado!

Deixe um Comentário

Nome
E-mail
Comentário