Jovens possuem menor chance de serem contratados e maior de serem demitidos
21/03/2019
Atualmente, o Brasil conta com 12,7 milhões de desempregados, que têm permanecido cada vez mais tempo nessa situação. Os mais jovens continuam sendo os mais afetados. Além de registrar uma retração de 1,3% na ocupação no trimestre móvel encerrado em janeiro, o grupo entre 18 e 24 anos possui a menor probabilidade de ser contratado e tem a maior chance de ser demitido.
Os dados constam na seção Mercado de Trabalho da Carta de Conjuntura divulgada na última quarta-feira, 20 de março, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os cálculos são feitos a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, e do Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda.
Após iniciar o ano de 2018 com claros sinais de dinamismo, avançando 2,0% em termos interanuais, o crescimento da população ocupada desacelerou, de modo que, no trimestre móvel encerrado em janeiro deste ano, o aumento observado foi de 0,9%. A análise do Ipea mostra que o mercado de trabalho não vem apresentando melhora substancial: sua retomada ocorre, basicamente, nos setores informais da economia e, dos postos de trabalho formais, um em cada quatro empregos criados são contratos em tempo parcial ou intermitentes. O ritmo de criação de novas vagas formais vem perdendo fôlego nos últimos meses, considerando tanto os dados da Pnad Contínua, quando os do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged). Além disso, o grupo dos desalentados e dos subocupados continua crescendo.
Essa lenta recuperação do mercado de trabalho – traduzida na manutenção de uma taxa de desemprego alta e persistente, principalmente entre os menos escolarizados – vem gerando aumento no número de domicílios que declararam não possuir renda de trabalho e nos domicílios de renda de trabalho muito baixa. O Brasil registrou cerca de 16 milhões de casas sem renda proveniente do trabalho no último trimestre de 2018, o que equivale a 22,2% das quase 72 milhões de residências no país. No último trimestre de 2017, a proporção era de 21,5%. O número é o maior para o período em seis anos e superior ao registrado antes da recessão do final de 2013 (18,6%).
“Essas famílias até podem possuir outra renda, como aposentadoria ou proveniente de programas sociais, mas nenhuma fruto do trabalho”, explica Maria Andréia Lameiras, pesquisadora do Grupo de Conjuntura do Ipea e coautora do estudo com os pesquisadores Carlos Henrique Leite Corseuil, da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais, e Sandro Sacchet de Carvalho.
A proporção dos domicílios de renda mais alta (superior a R$ 16 mil por mês) avançou levemente na comparação do último trimestre de 2017 com o mesmo período de 2018: de 2% para 2,1%, respectivamente, apesar de terem recuado em relação a anos anteriores. Já as fatias de domicílios de renda baixa (até R$ 2.396,57) e média (de R$ 2.396,57 até R$ 16 mil) mantiveram-se estáveis em 42% e 35%, respectivamente. Em relação aos salários, mesmo com o crescimento da renda dos mais pobres, desde o início de 2018 a renda dos mais ricos cresceu três vezes mais. A média da renda média domiciliar dos mais pobres variou 0,84% no período, enquanto que a dos mais ricos cresceu 2,6%. (Fonte: IPEA)