O ano em que o Forró Caju morreu #RIPforrocaju

16/06/2017


Tradição. Se qualquer pessoa perguntar à “Jenny – a gênia” da modernidade, vulgarmente conhecida como Google, o significado da palavra TRADIÇÃO, ela te responde com: “transmissão de doutrinas, de lendas, de costumes etc., durante longo espaço de tempo, especialmente pela palavra: a tradição é o laço do passado com o presente…”

Portanto, tradição é aquilo que se repete, ano após ano, e acaba sendo esperado pelas pessoas, como os festejos juninos, como finado Forró Caju, a maior festa da capital que sempre foi esperada não só pelos sergipanos, mas por muitos turistas que já tinham no cronograma de viagem a “capital da qualidade de vida” para vir arrastar as chinelas e ariar as fivelas. Digo finado Forró Caju porque a administração atual deixou a festa morrer à míngua, empurrando com a barriga para dizer a todo mundo o que eles já tinham definido: de que ela não aconteceria este ano. Será este realmente o início do fim?

Os argumentos são de que a herança maldita deixada pela administração passada impediu a realização do evento, que a prefeitura de Aracaju não tem verba suficiente para arcar com os festejos, que a prioridade é fazer a cidade funcionar e pagar os salários em dias. Concordo com tudo o que é dito e acho mais que correto não mexer no tesouro municipal para fazer festa, principalmente porque salário é sagrado e os servidores municipais, nos últimos anos, amargaram atrasos e mais atrasos de salário, que colocaram muitos, principalmente os aposentados, em situações financeiras e de saúde complicadíssimas.

Por isto, louvo o fato desta administração, neste ponto, estar respeitando os servidores ativos e aposentados. Mas não consigo aceitar o fato desta tradição tão importante para o povo sergipano e para a nossa economia não ser realizada. Ano passado, neste mesmo período e em época pré-eleitoral, na página do facebook do então candidato a prefeito da capital, ele fazia lamentações pela falta de alguns artistas na festa. Eram depoimentos como estes que recolhi da página e aqui reescrevo:

1 – “O #ForróCaju foi tradicionalmente o palco de um grande encontro: o do público sergipano com o cantor Flávio José. Com seu timbre marcante, sanfona afinada e repertório na boca do povo, o show do Flávio promovia um dos momentos mais incríveis das edições da festa. Lamento a sua ausência no Forró Caju deste ano. —  sentindo-se decepcionado” (sic)

2 – “A estrela Elba Ramalho era a maior a brilhar no São Pedro do #ForróCaju. E quando ela tocava, a noite era disputadíssima na praça dos Mercados, pois todos queriam vê-la, ouvi-la, dançar ao som de seu xote, xaxado, baião e, claro, do tradicional pé-de-serra. Elba era a madrinha da festa. Ela é uma das ausências mais sentidas, e mais inexplicáveis, nesse Forró Caju. —  sentindo-se triste” (sic)

3 – “Itabaianense que ganhou destaque em todo o País, Mestrinho é um dos grandes nomes do forró na atualidade. Artista consagrado ao lado de DominguinhosElba RamalhoGilberto Gil, este é mais um dos artistas sergipanos que ficaram de fora da programação do #ForróCaju deste ano. Lamentável.” (sic)

Ok! Em 2016 esses artistas não pisaram no palco da festa, mas ela aconteceu, foi feita também num período de crise brava e, por isso, sob um novo formato que foi o da terceirização, e não me perguntem como ou se ela deu lucro a quem e para quem porque não sou do CSI pra procurar saber.

O fato é que ela aconteceu. Em anos anteriores o povo da administração enchia o peito pra dizer que aqui era o melhor São João do país, ganhando, inclusive, para os TRADICIONAIS festejos de Caruaru/PE e Campina Grande/PB, que este ano estão lá, bombando de gente e com os nomes mais “estourados” do cenário musical para este período.

CARUARU E CAMPINA GRANDE TÊM MEU RESPEITO

O que eu não aceito é o fato de, desde janeiro de 2017, a PMA sabendo que não teria condição de arcar com a festa, não foi em busca de patrocínio da iniciativa privada. Se foi me perdoe por achar que não, mas também se foi e não conseguiu nada, pelo amor de Deus, tem outra definição que pode ser utilizada, mas vou deixar que cada leitor tire a devida conclusão. Caruaru, interior pernambucano com cerca de 350 mil habitantes está em festa desde o dia 3 de junho e a folia segue até o dia 29/06.

Será que uma prefeitura com população que beira a metade da nossa (Aracaju tem 641.523 habitantes de acordo com o IBGE) tem cacife financeiro para bancar tal estrutura alone? Eu mesma respondo: não! Mas houve planejamento da equipe e ela conseguiu o “milagre” de ter o patrocínio das marcas: Skol, Montilla, Bradesco, Cielo, Caixa, Governo Federal, Coqueiro, Intimus, Sky, Estomazil, Celpe e Consul. E aí? Está bom pra você?

Vamos para a concorrente direta dela, Campina Grande/PB (com população de 407.754 pessoas), que atolada pela crise financeira decidiu colocar a festa nas mãos da iniciativa privada e o lugar respira festejos juninos desde o dia 2 de junho, “ar que só vai ser desfeito” no dia 2 de julho. Fui catar notícias sobre a realização desta festa e encontrei o seguinte:

“Esse ano, a festa não será realizada pela Prefeitura Municipal de Campina Grande, que passou a ser uma patrocinadora do evento. O município vai pagar quase R$ 3 milhões para que a empresa realize a festa junina… Com a terceirização, a prefeitura informou que vai economizar cerca de R$ 5 milhões. Apesar da terceirização, já no edital do processo licitatório, a prefeitura de Campina Grande especificou uma lista de atrações de interesse, obrigando prioridade aos artistas citados… Caso a empresa não consiga fechar contrato com o artista indicado, ela pode procurar outra atração que tenha o mesmo valor e atenda ao mesmo estilo de música e ritmo”.

Gente, isto foi publicado pela imprensa paraibana em março deste ano, ou seja, o povo estava com a mão na massa desde cedo. O que eu quero dizer com isto tudo é que aquela velha máxima de que “é na crise que os bons se destacam” caiu como uma luva para Aracaju. Faltou fazer das tripas coração, pulmão, cérebro ou qualquer outro órgão para impedir que a cidade tivesse tamanha perda. A ABIH/SE já se pronunciou lastimando o fato e dizendo que diversos pacotes tiveram de ser desfeitos, porque a base deles e das reservas eram o Forró Caju.

Será que a prefeitura, antecipadamente, foi conversar com o trade turístico para saber como eles poderiam ajudar ou com quanto poderiam arcar da festa? A falta do Forró Caju é dinheiro a menos circulando no comércio local, já que o volume de turistas vai ser irrisório, e consequentemente, menos arrecadação para a própria gestão. É menos venda de artesanato, menos restaurantes lucrando, menos passeios a locais lindos e importantes para o turismo do Estado, como os Canyons de Xingó acontecendo.

Estou ficando no chão e amarrotada com uns comentários que estou lendo nas redes sociais, comentários no melhor estilo “jogo do contente, de Poliana”, de que, ‘ah, o lado bom de não ter Forró Caju é poder resgatar os festejos na família, na rua onde mora, no bairro…’. Balela…

Ora, me poupe desses discursos hipócritas, porque uma coisa não anula a outra, nunca anulou e nem irá anular, pois tudo depende de uma coisa simples: vontade de fazer, pois mesmo em anos de big Forró Caju teve gente que nunca pisou os pés lá porque preferiu estar em família ou ir para a Orla, para o Arraiá do Povo por considerar mais tranquilo. Meus queridos conterrâneos, coerência e canja de galinha nunca fizeram mal a ninguém, não é mesmo? #RIPforrócaju



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