"Precisamos armar o povo com educação, cultura e ciência" afirma presidente do TSE

26/05/2020


Ao tomar posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na tarde desta segunda-feira, 25 de maio de 2020, por meio de solenidade transmitida pela Internet em virtude da pandemia do novo coronavírus, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, fez um discurso reafirmando o compromisso com a democracia, agradecendo o trabalho dos profissionais da área da Saúde – linha de frente na luta contra a COVID-19 -, falou sobre a importância da atuação da imprensa no combate às fake News, eleições municipais deste ano, e sobre os pilares sobre os quais estarão alicerçados os trabalhos da nova gestão, dentre outros temas importantes para os brasileiros.

“Quis o destino que a minha posse como Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fosse durante uma pandemia que vem abalando o curso da humanidade. O impacto da doença causada pela Covid-19 se produz em múltiplas dimensões da vida: sanitária, social, econômica, fiscal e política, entre outras”, disse o presidente do TSE, demonstrando solidariedade a todos que estão sofrendo em virtude das perdas em consequência da pandemia, seja de pessoas queridas, emprego, renda ou negócios.

“Também dirijo essas primeiras palavras para os profissionais de Saúde de todo o País, especialmente do admirável Sistema Único de Saúde, que com abnegação e coragem salvam vidas em meio a essa crise humanitária”, observou. Segundo o ministro Luís Barroso, os três objetivos que irão mobilizar a gestão no que diz respeito à política são: uma grande campanha pelo voto consciente; a atração de jovens para a política e o empoderamento feminino, pois, o intuito é fazer com que mais mulheres adentrem ao mundo da política partidária e assumam postos-chave da vida nacional.

“Fomos criados em uma cultura machista e sua superação é um aprendizado e uma vigilância constantes. Ainda assim, poucas transformações foram mais extraordinárias ao longo da minha vida adulta quanto a ascensão feminina”, informou, observando que metade da população brasileira é composta pelo gênero feminino e que, desta parcela social, também metade dela é formada por mulheres negras e de origem indígena.

JÁ DERROTAMOS O ATRASO

Foto: TSE

A defesa da democracia continuará sendo uma batalha diária do TSE e, por isso, o novo presidente da Instituição fez questão de relembrar que democracia não é o regime político do consenso, mas, do dissenso legítimo, civilizado e absorvido institucionalmente. “Quem pensa diferente de mim não é meu inimigo, mas, meu parceiro na construção de uma sociedade aberta e de um mundo plural. A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. Nela, só não há lugar para a intolerância, a desonestidade e a violência”, afirmou o ministro.

Ele salientou, ainda, que a estabilidade institucional existente há três décadas, referindo-se ao processo de redemocratização do Brasil e da promulgação da Constituição Federal em 1988 já resistiu a “chuvas, vendavais e tempestades”, e que este é um caminho sem volta. “Só quem não soube a sombra não reconhece a luz que é viver em um Estado Democrático de Direito com todas as suas circunstâncias. Nós já percorremos e já derrotamos os ciclos do atraso”, discursou.

Foi, ainda, durante a abordagem deste tópico que o ministro Luís Barroso fez a defesa do Supremo Tribunal Federal, o último intérprete da Carta Magna, e que tem sofrido ataques constantes e sistemáticos. “Como qualquer instituição, em uma democracia, o Supremo  está sujeito à crítica pública e deve estar aberto ao sentimento da sociedade. Cabe lembrar,  porém, que o ataque destrutivo às instituições a pretexto de salvá-las, depurá-las ou expurgá-las já nos trouxe duas longas ditaduras na República. São feridas profundas da nossa história que ninguém há de querer reabrir”, pontuou.

O recém-empossado presidente do TSE abordou uma questão que sendo bem comentada em todo o país: a alteração da data das eleições municipais em virtude da pandemia do novo coronavírus. Prevista, na legislação vigente, para acontece no mês de outubro deste ano, “as eleições somente devem ser adiadas se não for possível realizá-las sem risco para a saúde pública. O cancelamento das Eleições Municipais para fazê-las coincidir com as Eleições Nacionais, em 2022, não é uma hipótese sequer cogitada”, garantiu.

FAKE NEWS PREOCUPAM

O ministro Luís Roberto Barroso confessou que uma das grandes preocupações da Justiça Eleitoral são as chamadas Fake News, que, segundo ele, mais apropriadamente são campanhas de desinformação, difamação, de ódio, informações intencionalmente falsas e deliberadamente propagadas e que, para enfrentar esses “desvios” precisará de apoio de personagens importantes como a sociedade, as mídias sociais e a imprensa. “Mais que nunca nós precisaremos de Imprensa profissional, que se move pelos princípios éticos do jornalismo responsável, capaz de separar fato de opinião e de filtrar a enorme quantidade de resíduos que circula pelas redes sociais”, declarou o ministro.

Antes de encerrar o discurso, o presidente do TSE fez questão de enaltecer a importância da educação, de como ela é capaz de mudar, de elevar a vida das pessoas, e sobre como a deficiência dela, sobretudo na educação básica, atrasou o Brasil no curso da história. Segundo ele, a falta de educação produz vidas menos iluminadas, trabalhadores menos produtivos e um número limitado de pessoas capazes de pensar criativamente um país melhor e maior. “A educação, mais que tudo, não pode ser capturada pela mediocridade, pela grosseria e por visões pré-iluministas do mundo. Precisamos armar o povo com educação, cultura e ciência”.

Por fim, o ministro disse esperar que, após passada toda a tormenta causa pelo novo coronavírus, que a humanidade e o Brasil estejam mais conscientes dos problemas reais que possuem, mais solidários e comprometidos com os valores que fazem a grandeza das nações: justiça, igualdade de oportunidades e verdadeira comunhão fraterna. Salientou a integridade, a luta para derrotar a pobreza e a competência, como sendo os três itens que deverão permear qualquer agenda nacional pós-crise.

“Precisamos deixar de ser o país do nepotismo, do compadrio, das ações entre amigos com dinheiro público. Precisamos derrotar as opções preferenciais pelos medíocres, pelos espertos e pelos aduladores. É hora de dar espaço aos bons. Tem-se falado que depois da crise haverá um novo normal. E se não voltássemos ao normal? E se fizéssemos diferente?”, questionou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral. (Foto: TSE)



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