Profissionais da beleza da Grande Aracaju querem voltar a trabalhar o quanto antes

26/06/2020


“Uma completa falta de consideração com os profissionais da beleza!” É desta forma que a presidente do Sindicato dos Cabeleireiros, Similares e Autônomos de Sergipe (Sindicab), Rousy Leite, classifica a decisão do governo de Sergipe em não permitir a reabertura dos salões de beleza, barbearias e locais que ofereçam atividades de higiene pessoal (a exemplo dos centros de depilação) na próxima segunda, 29 de junho, nos municípios de Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra dos Coqueiros. No restante do Estado as atividades destes locais poderão ser reiniciadas.

O anúncio do governo foi feito na última terça-feira, 23 de junho, durante entrevista coletiva, quando também foi dito que a situação deverá ser reavaliada no dia 30 de junho, quando está prevista nova reunião entre o Governo e os comitês Gestor de Emergência, e de Retomada Econômica, responsáveis por orientar o poder Executivo na tomada de decisões referentes ao enfrentamento do novo coronavírus e de minimização dos impactos econômicos que a pandemia tem causado.

“Não existe lógica em liberar setores cujo controle de acesso e cuidados com a higiene sequer se comparam ao que podemos oferecer, aliás, ao que já oferecemos, pois, os estabelecimentos que atuam no setor da beleza seguem, por Lei, diversas regras sanitárias e são rigidamente fiscalizados”, declarou Rousy leite. Um dos exemplos que ela cita é o fato de ser normal, no cotidiano dos profissionais da beleza, o uso de máscara, jaleco e luvas durante o atendimento aos clientes.

Segundo ela, o sindicato preparou um plano de controle para a volta às atividades e, também, uma cartilha orientativa para os profissionais, documentos que, inclusive, foram encaminhados para o governo estadual há cerca de 20 dias. “Mas, infelizmente, parece que ele sequer olhou”, lamentou a presidente do Sindicab, informando que a Assessoria Jurídica da entidade está fazendo novo estudo de caso, que gerará outro documento e será, também, encaminhado ao Executivo estadual.

A não liberação da reabertura fez cair por terra a esperança de aproximadamente 11 mil profissionais, uma vez que a região da Grande Aracaju “abriga” 50% do total de trabalhadores do setor, já que pesquisas realizadas pelo IBGE apontam 22 mil pessoas conseguindo, através do oferecimento de cuidado e bem-estar à população, o sustento diário. O Sindicato liderado por Rousy Leite atua em todo o estado de Sergipe e a ele estão ligados, além dos cabeleireiros e barbeiros, os designers de sobrancelhas, maquiadores, manicures e pedicures, esteticistas e depiladores.

SONHOS PERDIDOS

De acordo com a presidente sindical, dos 22 mil profissionais em atuação no Estado, aproximadamente 15 mil são formalizados, a grande maioria destes tendo constituído CNPJ, mesmo que trabalhe em algum salão. “Dentro dos formais são poucos os que têm carteira assinada no regime CLT. Se a situação está muito complicada para os formais, imagina para os cerca de sete mil informais. Tem muita gente fechando as portas para sempre. Toda hora recebo uma ligação de alguém em desespero, ou a notícia de que mais um salão está sendo vendido, ou de que equipamentos estão sendo vendidos, enfim, de pessoas que estão abrindo mão de um sonho que foi construído com muito sacrifício. Nós precisamos de ajuda!”, observou.

Rousy Leite disse ter informações, até o momento, de que cerca de 150 formalizados já pediram o cancelamento do CNPJ, embora tenha a certeza de que o número seja muito maior. Citou como exemplo um profissional de Aracaju, com mais de 20 anos de mercado e sindicalizado, que fechou o salão, doou tudo o que tinha e disse que quando a pandemia acabar voltará a trabalhar em salão de terceiros.

“Estamos passando por uma situação terrível. Na última quarta-feira acordei com a notícia de que Lorrany Rios, outra profissional da beleza, com apenas 39 anos, morreu vítima dessa situação. Após ter demitido os quatro funcionários e não ter como se manter, entrou em depressão, acabou sofrendo um AVC há cerca de 15 dias e morreu esta semana. Estou arrasada porque eu sei que existem muitas outras pessoas em situações extremamente delicadas, sem ter o que comer, devendo aluguel da casa onde mora, enfim, passando por severa necessidade”, lamentou.

Outra “dor” sentida pela presidente do sindicato, em meio a várias outras causadas pela pandemia é a de não poder oferecer a ajuda necessária aos profissionais da beleza neste momento. Criado em dezembro de 1978, o Sindicab possui apenas 680 associados, o que lhe confere pouco poder de atuação nesta pandemia.

“Não temos fôlego financeiro para fazermos mais unicamente por nossa conta, por isso, estamos sendo ajudados por algumas campanhas solidárias, e que ótimo que isto tem acontecido. Se a categoria participasse mais haveria condição de ajudar com maior efetividade, de doar por meio de recursos próprios do sindicato, por exemplo, duas cestas básicas por mês. Quem sabe, depois que isso tudo passar, se as pessoas não terão percebido a importância que esta entidade possui, do quanto podemos defende-las, auxilia-las”, comentou Rousy Leite.

Foto: Arquivo Pessoal.



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