Rua de São João: santo do dia opera milagre aos 44 minutos do segundo tempo
24/06/2017
Sergipano que é fã de carteirinha dos tradicionais festejos juninos de Aracaju, este ano, deve ter tido taquicardia forte pelo menos umas duas vezes. A primeira quando foi confirmado que não haveria o Forró Caju, e a segunda com a quase não realização das festas da tradicional Rua de São João, localizada no bairro Santo Antônio. Eu acho que foi tanta oração, tanto choro, tanto desgosto dos moradores da região e dos integrantes do Centro Social São João de Deus – organizadores da festa -, que o principal homenageado do ciclo junino se apiedou e operou um milagre nos 44 minutos do segundo tempo.
O nome do milagre: Universidade Tiradentes (Unit), instituição privada que, diferente dos governantes locais, reconheceu a importância cultural que a festa da Rua de São João possui e decidiu patrocinar o evento, permitindo, assim, que a 107ª edição aconteça a partir deste sábado, 24 de junho. O anúncio foi feito na manhã desta sexta-feira, 23 de junho, quando o professor Jouberto Uchôa, reitor da Unit, disse o motivo de a maior Instituição de Ensino Superior privado de Sergipe ter abraçado a causa.
“Nossa tradição não pode ser jogada fora, ainda mais esta, com 107 anos de existência. Soubemos que este ano o festejo não seria realizado, por isso, procuramos os responsáveis para conversar e falar que assumiremos os custos financeiros que nos foram apresentados” declarou o reitor da Unit.
Ele confidenciou que o local lhe traz memórias felizes, e que foi por causa das quadrilhas – ele era marcador quando jovem – que ingressou no campo educacional, onde ele mesmo disse ter enterrado o nariz para não mais tirar. Professor Uchôa falou ainda que patrocinar a festa tem a ver também com a preocupação em não deixar que a economia local fosse afetada negativamente. “Não podemos perder esta oportunidade de fazer crescer a renda das pessoas, bares e restaurantes, por exemplo”, frisou.
Eita que ele pensou demais em coisas que não poderiam ter sido esquecidas por muita gente – de antemão digo que voto nesse simpático ser humano para ser o coache de certas pessoinhas nesta terra das araras e cajus. De acordo com o presidente do Centro Social São João de Deus, José Ronaldo Alves, 35 ambulantes são cadastrados oficialmente para trabalhar na festa, mas indiretamente são muitas as pessoas/famílias que conseguem uma renda extra no período.
“Daqui derivaram todas as outras festas juninas da cidade. Foi por não comportar tanta gente por aqui que o Forró Caju foi criado. A tradição do mastro, em Capela, foi algo copiado da Rua de São João e muita gente não sabe e digo isso para mostrar a importância que temos. Estamos felizes com a parceria da Universidade Tiradentes, que nos mostrou que não está só preocupada com a formação de bons profissionais, mas também com a cultura, com a tradição do povo sergipano”, observou José Ronaldo Alves.
Este ano serão apenas seis dias de folguedos porque tudo foi resolvido muito em cima da hora, e ainda bem que foi, não é mesmo? Melhor seis dias do que nada (#ripforrócaju)! E por ter o tempo reduzido, já que a festa acontecia durante todo o mês de junho, nesta edição não serão 40 quadrilhas juninas competindo, mas apenas 15, que foram indicadas pelas duas ligas existentes no Estado. A premiação será de R$ 3 mil, R$ 2 mil e R$ 1 mil para as três primeiras colocadas. Mas quem meteu o dedo na ferida, depois de render agradecimentos à salvadora da Pátria, foi o presidente de honra do Centro Social e morador mais antigo da Rua de São João, Antônio Freitas, 94 anos de idade, há 75 morando na comunidade.
“Lamentável o jeito como tratam este local. Não queremos cantores caros e de renome nacional; não queremos grandes investimentos, a gente só precisa de um trio pé-de-serra para fazer o nosso autêntico forró e fazer com que continue viva a tradição”, disparou. Só que, pergunto eu, o que esperar de uma cidade que deixou morrer a maior, mais tradicional e esperada festa popular, e que fazia a economia local pulsar com mais velocidade? Deixa pra lá, a panela já caiu, o leite derramou e a terra ‘chupou’ tudinho, não dá pra fazer mais nada, a não ser esperar ver o que vai acontecer em 2018.
Bem, como a festa na Rua São João está mais curtinha, ela vai acontecer da seguinte forma: neste sábado (24) tem cortejo das carroças enfeitadas, saindo as 15h30 do local, percorrendo as principais ruas do bairro Santo Antônio e voltando para o ponto de onde saiu perto das 18h, quando acontece, no palco, o casamento caipira e um arrasta-pé. No domingo começa o concurso de quadrilhas, sempre às 19h, sendo encerrado no dia 29.