Subsecretária-geral da ONU defende educação sobre sexualidade para empoderar os jovens

05/11/2018


Garantir os direitos e a saúde sexual e reprodutiva de meninas e mulheres deve estar entre as prioridades dos países e ser um foco de ação conjunta entre governos, sociedade civil e iniciativa privada. Esta foi uma das principais demandas apresentadas pela diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e subsecretária-geral da ONU, Natalia Kanem, durante o Congresso Mundial da Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO), realizado no Rio de Janeiro durante o mês de outubro.

Kanem participou da abertura do evento e também da sessão presidencial do encontro. Ao longo de sua passagem pelo Brasil, a dirigente se reuniu ainda com o ministro da Saúde, Gilberto Occhi, e a presidente da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Nísia Trindade Lima. A redução das mortes maternas, o acesso a serviços e insumos que permitam o planejamento da vida reprodutiva e a demanda urgente por ações que diminuam as práticas nocivas, como mutilação genital feminina e casamentos precoces, foram pontos comuns em falas de diferentes representantes da área médica durante o congresso da FIGO.

Também foram lembrados os compromissos assumidos com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o papel fundamental que médicos, enfermeiros e parteiras desempenham para alcançá-los – em especial os ligados diretamente a saúde. “Precisamos dar as mãos e investir no poder das parcerias entre a ONU, governos, setor privado e sociedade civil, para que tenhamos habilidades combinadas e recursos para enfrentar esses problemas”, ressaltou a chefe do UNFPA.

Educação e informação sobre sexualidade

Em pronunciamento na sessão presidencial do congresso, Natalia Kanem defendeu uma educação abrangente sobre sexualidade para diminuir as taxas de gravidez na adolescência e de gestações não planejadas. Segundo a diretora-executiva do UNFPA, apenas 52% das mulheres em todo o mundo tomam decisões autônomas sobre sexualidade e sobre ter filhos ou não. “Por que é que, todos os anos, ainda ocorrem 100 milhões de gestações não planejadas? Por que mais de 200 milhões de mulheres ainda esperam por (acesso à) contracepção moderna?”, questionou a chefe da agência da ONU, informando que, a cada ano, mais de 7 milhões de bebês nascem de meninas que ainda são, elas mesmas, crianças. Complicações da gravidez e do nascimento são a principal causa de morte entre meninas adolescentes.

Ela também pediu que os profissionais e gestores de saúde presentes no evento “se livrem dos tabus” sobre sexo e sobre saúde sexual e reprodutiva. “Uma educação abrangente sobre sexualidade é vital para avançar os resultados de saúde e a igualdade de gênero, mas o acesso a isso ainda enfrenta desafios em muitos lugares. Quando as pessoas jovens têm as informações e serviços de que precisam, elas podem tomar decisões saudáveis e informadas sobre seus corpos, seus relacionamentos e suas vidas. Elas podem se proteger de gestações não desejadas e do HIV e outras ISTs”, explicou Kanem.

Sobre o Brasil, ela ressaltou que o país vive uma dinâmica particular na promoção da saúde sexual e reprodutiva. “O índice do uso de contraceptivos é de 80%, enquanto a taxa de gravidez não desejada ainda chega a 55%. Apenas no grupo de meninas com menos de 15 anos de idade, há mais de 22 mil nascimentos no país todos os anos”, informou.  Também presente na plenária, Álvaro Bermejo, diretor-geral da Federação Internacional de Paternidade Planejada, lembrou conversas com mulheres e meninas em alguns dos 152 países onde o organismo atua. Nesses diálogos, ficava evidente a vontade de ter acesso a contraceptivos, mas a utilização deles devia respeitar as escolhas e preferências particulares das mulheres. Outra exigência era a disponibilidade permanente de orientação médica sobre o tipo de contracepção adotado. “Em relação à contracepção, as (meninas e mulheres) que eu escutei e que ecoam em minha cabeça diziam ‘Eu quero, sob as minhas condições e com apoio’”, explicou o especialista.

Na avaliação de Bermejo, um dos caminhos para promover o uso de métodos anticoncepcionais é superar a ideia de que meninas e mulheres já têm um destino definido para suas vidas, muitas vezes limitadas por estereótipos de gênero. Segundo o dirigente, é necessário difundir o conceito de que elas “podem e devem querer (outras) coisas e isso importa porque elas importam”.

Mortalidade materna

Ainda durante a sessão presidencial, a analista da Organização Mundial da Saúde (OMS), Lale Say, lembrou que a taxa de mortalidade materna diminuiu 44% desde 1990, ano em que foram registrados cerca de 532 mil falecimentos de gestantes ou mães de recém-nascidos. Mas o problema não foi completamente eliminado e permanece em níveis preocupantes. “Nós ainda temos (no mundo) mais de 300 mil mulheres morrendo por causas associadas à gravidez todos os anos”, enfatizou Say, que é coordenadora da Equipe de Adolescentes e Populações em risco da OMS.

A morte materna é definida como o falecimento de uma mulher durante a gravidez, parto ou pós-parto, num prazo de até seis semanas após dar à luz. Por dia, aproximadamente 830 mulheres morrem devido a complicações na gestação, parto ou no período posterior ao nascimento do bebê, segundo dados de 2015 da OMS. Say observa mudanças nos padrões de mortalidade materna. De acordo com a especialista do organismo internacional, a saúde das gestantes tem sentido cada vez mais o impacto tanto de infecções quanto de doenças crônicas, incluindo problemas de saúde mental, como depressão e suicídio. “Vemos que as mulheres que estão morrendo têm algum outro tipo de desvantagem, na maioria dos casos, social ou econômica”, acrescentou Say, que frisou a vulnerabilidade de mulheres pobres, com menos educação e em situações de crise humanitária.

No Brasil, ao longo do período 1990-2015, a taxa de mortalidade materna caiu de 143 para 62 óbitos a cada 100 mil bebês nascidos vivos. Em 2016, porém, o índice subiu, chegando a 64,4. A média esconde amplas disparidades regionais — no Norte, a taxa é de 84,5; no Nordeste, 78; no Sul, 44,2. A meta do governo brasileiro é reduzir o valor nacional a 35 até 2030. A interrupção voluntária da gravidez é a quarta maior causa de morte materna no Brasil. (Com informações de matéria contida no site ONU Mulheres. Foto principal: Natalia Kanem - à esquerda, e a presidente da FIOCRUZ, Nisia Trindade Lima. Foto UNFPA Brasil/Erick Dau)



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