Vamos falar sobre cor?

20/11/2017


Dia Nacional da Consciência Negra. Falado, badalado, postado nas redes sociais. Que bom que existe esse dia, e que triste que ele existe também. Ops! Que dicotomia é essa? Que bom que existe porque em uma sociedade hipócrita, que age como se não houvesse problema algum, infelizmente ainda é necessário um dia para fazer com que as pessoas lembrem que o preconceito racial é real, e enxerguem o quanto ainda falta fazer para que a humanidade ame o outro.

E é justamente porque muitas pessoas ainda enxergam supremacia com relação ao outro por causa da cor da pele que eu digo que é triste ainda ter datas específicas que ecoem fortemente num país desigual. O ideal seria que ninguém precisasse do dia da consciência negra, azul, branca ou roxa para ser feliz, ou pior, para ter assegurado direitos essenciais que se iniciam pelo respeito.

Respeito, aliás, deveria ser a palavra chave e o ponto de partida para muitas coisas. Infelizmente o ser humano ainda utiliza a cor da pele para julgar, subjugar, classificar, discriminar. Há quem não concorde quando se fala que o país tem uma dívida histórica com os negros, mas tem. Há 486 anos, quando aportou nas bandas de cá o primeiro navio negreiro, foram somente 357 anos de chibatadas, de perseguições, mortes, estupros, vergonha e humilhação. Ah, mas em 1.888 a princesa Isabel libertou de uma vez por todas os negros. Tudo bem, não desmereço tal ato.

Mas vamos lá! Ela assinou um documento libertando homens e mulheres que só sabiam servir, que não tinham condições de se manterem sozinhos, que não ganharam terras para recomeçar a vida, como foi feito com os imigrantes europeus e, por isso, muitos continuaram ainda trabalhando para os antigos senhores em troca de teto e um prato de comida. Outros foram tentar a sorte, mas fincaram os pés em locais bem distantes e sem qualquer tipo de infraestrutura (que naquela época já era por si só precária) – não por querer próprio -, em condições insalubres, e deram origem ao que hoje chamamos de comunidades, mas que por muito tempo foi chamado de favela. Bem... vamos dar um salto histórico e chegar aos dias atuais.

Representação do Orixá Yansã - Foto da Internet - artista desconhecido

Existem negros em todos os setores e áreas da sociedade, sim, tem. Mas o esforço desses foi muito, mas muito maior mesmo que o de pessoas com pele branca, e sabe por quê? Porque o próprio estado não faz questão de igualar todos pela base. E de que forma? Dando Educação de boa qualidade para todos, e aí neste bolo estariam realmente negros, brancos, amarelos e as demais cores do arco-íris que não têm boas condições financeiras. Todos seriam beneficiados.

Mas Andréa, existem brancos sem condições financeiras, sem emprego. Sim, lógico que existe, mas ainda há o fato de que, na fila de um emprego, estando um branco e um negro pleiteando a mesma vaga, dificilmente o negro ganharia a vez.

Existe o fato de que, mesmo sendo 54% da população no Brasil, 71% dos assassinados no país são negros, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Existe o fato de que, entre 2005 e 2015, a quantidade de homicídios de brancos caiu 12%, enquanto a quantidade de negros assassinados subiu 18%.

Existe o fato de que templos católicos, espíritas ou evangélicos não são invadidos e destruídos, de que seus praticantes podem dizer abertamente que os são sem serem apontados nas ruas ou julgados como filhos do demônio. Tampouco o aparelhamento do Estado chega para mandar parar um culto porque está fazendo barulho, mas, na contramão disso existem os terreiros das religiões de matrizes africanas que a cada 15 horas são importunados, como mostram os dados do Disque 100 nacional, que registrou, de janeiro de 2016 até o primeiro semestre deste ano, quase 1.500 queixas de agressão de todos os tipos.

Ah, e existe também o fato de achar que homem negro é bom de cama porque, folcloricamente, dizem que tem o órgão sexual avantajado, e de que as mulheres negras são boas de cama porque têm o órgão sexual quente. Sim minha gente, existe isso e eu digo com conhecimento de causa, pois já ouvi tantos despautérios por ser negra, inclusive já fui taxada de louca por me considerar negra e o povo mandar eu olhar para o braço para ver realmente a minha cor.

Quem achar que é exagero meu, faz um pequeno teste: olha em volta dos locais por onde você anda, aí mesmo, no seu ambiente de trabalho, e veja, ou melhor, faça as contas de quantos negros existem. Será que os espaços não são ocupados por mais negros por falta de vontade? Certamente não. E por falta de capacidade? Também não, pois, mesmo em quantidades infinitamente menores por tudo que já foi dito e também não dito aqui, existem excelentes profissionais neste país, o problema são os acessos, ou melhor os problemas são os gargalos - no melhor estilo ariano – existentes nos acessos. (A foto que está em destaque é do fotógrafo James C. Lewis, que fotografou modelos como se fossem os orixás)



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