“Quero que os empresários se tornem empreendedores hoteleiros”
20/05/2022
Por Andréa Moura
Da infância pobre no interior da Bahia, a uma vida de sucesso. Essa frase até pode parecer clichê, mas não vejo outra melhor para definir, rapidamente, a trajetória de vida do professor José Wilson dos Santos, mais carinhosamente conhecido como ‘professor Wilson do Vidam’. Aos 60 anos de idade, ele tem como histórico construir empreendimentos de sucesso. Assim foi no ramo educacional ao fundar uma escola com apenas oito alunos e, em 2019, ser uma das gigantes do ensino superior, com mais de oito mil alunos matriculados.
Assim também está sendo no ramo do turismo. Começou comprando o então Radisson Hotel, hoje, Vidam Hotel Aracaju; inaugurou o Vidam Náutico Clube e Praias (em Itaporanga D’Ajuda) e a Fazenda Vidam Escurial (em São Cristóvão). Além desses empreendimentos, também atua no exterior, mais precisamente nos Estados Unidos, com o Vidam Home Vacation (aluguel de casas por temporada).
A visão empreendedora e futurista o levou, em pouco tempo, a assumir a presidência da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH/SE) para o biênio 2022/2024, posse ocorrida no dia 4 de abril na Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe.
Por saber aproveitar muito bem o tempo, professor Wilson ainda consegue ser membro de uma fundação, em São Paulo, que forma gratuitamente jovens empreendedores. E foi com esse homem cheio de atribuições e adjetivos que nós, do PRA VOCÊ SABER, conversamos com o objetivo de conhecer um pouco mais sobre a vida dele, o que pensa, e como pretende ajudar Sergipe a ser destaque nacional e internacional no setor turístico. Confira a entrevista:
PRA VOCÊ SABER – O senhor adquiriu o então Hotel Radisson pouco antes de a pandemia começar, em dezembro de 2019, ou seja, assim que comprou o empreendimento ficou impossibilitado de oferecer os serviços. Isso fez com que o senhor se arrependesse da aquisição?
JOSÉ WILSON DOS SANTOS - Pelo contrário! A pandemia, para mim, só foi ruim porque vimos muita gente morrer, muita gente falir. As incertezas eram terríveis. Mas eu sempre tive uma consciência que me sinalizava que após a pandemia teríamos um mundo bem diferente, e com um olhar voltado para o turismo, porque as pessoas iriam buscar qualidade de vida, iriam buscar momentos e oportunidades para celebrar a vida, por terem vencido essa etapa. Hoje, já vejo de outra forma. O mundo está diferente. A cabeça das pessoas não é a mesma de quando não existia vacina, de quando a incerteza dominava. Agora, por incrível que pareça, é como se a pandemia não tivesse existido.
PVS – E isso é bom, ou ruim?
JWS - Penso que é preciso refletir sobre, porque o mundo está muito dinâmico, muito veloz, e essa velocidade desumaniza. Mas, do ponto de vista psicológico isso é bom, porque as pessoas não poderiam continuar com a pandemia na cabeça o tempo inteiro, e deixando de viver. Você verá, daqui a um ano ninguém mais lembrará que a pandemia existiu.
PVS – Explica para nós: por que trocar o ramo educacional pelo de turismo?
JWS - Quando saí da educação foi porque meu ciclo, naquela área, havia sido concluído após 38 anos. Fundei a primeira escola em 1982, com apenas oito alunos. Em 2019 vendi uma rede de faculdades, com um centro universitário e aproximadamente 8.600 alunos. Só que eu me sentia cansado como educador, porque tinha a consciência de que não formaria o profissional ideal para a sociedade do momento.
PVS – E como seria esse profissional?
JWS – Estamos vivendo um momento de alta complexidade, e as escolas, hoje, estão formando pessoas no sistema simples, tudo hoje é muito simplificado. Como você forma uma pessoa com olhar de baixa complexidade para um mundo altamente complexo? Esse profissional sairá despreparado, e quando for enfrentar o mercado de trabalho se frustrará.
PVS - Quando o senhor fala em baixa complexidade, o que estaria faltando, no seu ponto de vista?
JWS - Metodologia e conteúdo. Precisamos formar pessoas para o pensamento estratégico, e hoje a escola ainda é transmissiva, ou seja, é um professor à frente dos estudantes, usando um quadro, alguns recursos tecnológicos que não mexem com a cabeça de ninguém, e o aluno sai sem saber pensar. A escola não ensina a pensar, e defendo um sistema de ensino em que o sujeito seja proativo. Defendo e sou estudioso das metodologias ativas, que na educação básica se chama de construtivismo e lá no ensino superior, mais especificamente na Medicina, se chama de Aprendizagem Baseada em Problemas - PBL. Nela, não há aula expositiva porque o professor não é um sujeito que transmite, ele é um sujeito que ensina o aluno a aprender. Só que a escola continua transmitindo conteúdo, e isso não vai funcionar.
PVS – O senhor estaria dizendo que essa metodologia não funcionaria depois, para a vida?
JWS – Hoje em dia, o conteúdo está na internet, no Google, que responde qualquer pergunta para você. Agora, cabe a você ser inteligente e ver se a resposta dele te convence, porque tem muita coisa óbvia, mas também tem muita coisa complexa, e a pesquisa nos ambientes digitais depende muito da capacidade do sujeito que está pesquisando, da pergunta que é feita. Sempre ensinei os meus alunos a fazerem perguntas, e não a terem as respostas, e o aluno com o qual estava lidando era o que só queria as respostas prontas, e não acredito na formação dessa maneira.
PVS – Esse comportamento teria sido o “empurrão” que faltava?
JWS – Com base nesse contexto resolvi passar minhas instituições para um grupo de educação superior, e fui investir no agronegócio, porque é lucrativo, não tem problema e não me daria muito trabalho, ou seja, é de baixa complexidade. Mas ele não tem gente e eu queria uma linha humanizada. Descobri que não preciso de uma vida ociosa. Eu preciso de trabalho que me gere felicidade, porque me considero uma pessoa feliz. Trabalho pesado, de sete da manhã até a madrugada, minha agenda é lotada, mas isso para mim não é ruim, tampouco cansativo, pois sou muito proativo.
PVS – E então o senhor passou para o turismo...
JWS – Sim, a linha humanizada da qual precisava poderia ser encontrada no turismo. E me perguntava, por onde começar? Construir um hotel demoraria muito. Meu sonho era ter um resort. Sempre pensei que depois do 60 anos teria uma pousada de charme, pequena, pé na areia, para receber pessoas que pudessem ter uma vida feliz sem fazer contas, mas não porque queria ganhar dinheiro, mas para poder oferecer experiências aos hóspedes e atender às expectativas deles. Se o fato de beber uma garrafa de vinho de R$ 5 mil fosse deixar meu hóspede feliz, eu iria proporcionar isso, mas repito, não para ganhar dinheiro, porque isso eu já tenho para viver, era para que aquele hospede pudesse ser feliz sem ter o sentimento de mesquinhez, entende? E então surgiu a oportunidade de adquirir esse hotel de luxo, em área nobre de Aracaju, e achei que seria o caminho, seria a forma de construir o Know-how de como o negócio funciona.
PVS - O Vidam Hotel Aracaju era o que o senhor queria?
JWS – Sim, porém, não tem como fazer nele o que tinha em mente para a pousada de charme, porque ele é grande, tem 148 apartamentos e é de alta complexidade. Gosto muito disso aqui, mas não consigo, como conseguiria na pousada, tratar cada hóspede pelo nome, conhecer a todos, bater papo, tomar um vinho, e por aí vai.
PVS – Isso significa que os planos podem mudar para o futuro?
JWS – Não. Penso que lá na frente vou implantando mais coisas e colocando o pessoal mais jovem para assumir, e então encontrarei um canto extraordinário, aqui em Aracaju ou em Sergipe. Aliás, esse canto eu já tenho, que é a Ilha do Sol, onde foi feito o Réveillon Vidam. Lá vamos construir bangalôs na água, estilo Maldivas, serão as Maldivas sergipanas. Veremos como discutir isso com a legislação ambiental para fazer tudo dentro da legalidade. Creio que lá possa ser um canto que me fará bem.
PVS - Em quanto tempo esse projeto deve acontecer?
JWS - Já estamos fazendo, porque gosto de fazer tudo devagarinho, gosto de curtir obra, porque não faço para vê-la pronta, faço para ir pela manhã, sinalizar, conversar com os pedreiros, de voltar ao final da tarde e ver o que aconteceu. Não vou marcar data para estar pronto, mas é um projeto para curto prazo, e de certa forma temos que fazer tudo rápidinho porque o tempo passa rápido. O fato é que, depois do Vidam Hotel entendi que ele, apenas, não seria suficiente, porque Sergipe precisa de destino turístico.
PVS – Chegamos a um ponto importante da conversa: por que escolher Sergipe para receber seus projetos, quando o senhor poderia fazê-los em qualquer lugar do mundo?
JWS – Realmente poderia ter escolhido qualquer lugar do mundo, e olhe que as pessoas me aconselhavam a investir na Bahia, porque tem turismo ativo, ou em Alagoas, porque a economia estava lá em cima, mas eu quis Sergipe da mesma forma que quis Paripiranga para construir a faculdade. Na época me perguntavam por que colocar uma faculdade em uma cidade que não tinha nem sete mil habitantes, e quando eu a vendi tinha mais estudantes nela do que na própria cidade. Então, respondendo à sua pergunta, escolhi Sergipe por perceber essa fragilidade para o turismo. Aqui tem tudo e as pessoas não sabem explorar, não sabem aproveitar.
PVS – Não sabem explorar, talvez, por que tenham ficado esperando muito pelos governos?
JWS - Aqui existe uma cultura que foi alienada pelo governo. O governador João Alves filho, que é uma referência em gestão pública e, por sinal, está entre as celebridades nordestinas na parede destinada a elas, aqui no Vidam Hotel, fez muito pelo turismo de Aracaju. Aliás, eu não sei, em Sergipe, o que não tenha sido feito por João Alves. Ele deixou uma marca, um legado muito bacana. Só que para os hotéis funcionarem, ele abriu uma linha de crédito na qual o estado colocou recursos à disposição da iniciativa privada para que os hotéis viessem a funcionar, e isso alienou muito a população. Ainda hoje Sergipe espera muito pelo Poder Público. Como presidente da ABIH tentarei desconstruir isso, porque o governo precisa fazer a parte dele, as assessorias dos governos o que lhes cabem, e o empresariado fazer o que lhes compete.
PVS – E qual seria, exatamente, a parte que cabe ao governo?
JWS – Infraestrutura no geral. Quem define a infra é o governo. A iniciativa privada não constrói estradas, é o governo quem precisa fazê-las; a iniciativa privada não vai construir uma praça, um parque cujo acesso não seja cobrado; não vai fazer a estrutura de Orla como a que temos aqui; não vai investir nos elementos que são peculiares da União, como rios e mares etc. O papel do Estado e da União é de montar a infraestrutura necessária e entregar para a iniciativa privada cuidar.
PVS - Tema polêmico, não?
JWS - Eu defendo muito que a nossa Orla seja administrada pelo setor privado, e esse é um tema complexo, eu sei, mas também sei que o segmento público não tem as habilidades que o privado tem para fazer gestão, porque há muita burocracia e ela dificulta. Por exemplo, um secretário quer fazer uma festa na segunda-feira e ele não conseguirá, porque tem prazo para fazer licitação e todo um trâmite a percorrer, já a iniciativa privada não, ela poderá realizar porque tem autonomia para fazer isso tudo.
PVS – E quais as possibilidades existentes para o crescimento do turismo sergipano, na sua opinião?
JWS – Depois que investi no hotel entendi que precisamos de destino, e percebi que temos um potencial grande, na verdade fantástico, para o turismo náutico em Sergipe. Nos limites do estado estão dois grandes rios, por sinal, um deles é o maior do Brasil, o São Francisco. Para o lado da Bahia, Sergipe está dividido por um rio que chega até Mangue Seco; depois vem o Vaza-Barris, que é fantástico e cujo encontro com o mar é um cenário lindo de ser visto, e olhe que não estou falando dos outros rios. Não são todos os estados, mesmo os da costa marítima, que possuem todo esse potencial.
PVS - E como aproveitar tudo isso?
JWS – O que precisamos é colocar tudo isso em evidência, priorizar, discutir com os governos para melhorar a infraestrutura e os empresários se sentirem motivados. Eu sou um empresário motivado e não faço mais porque o tempo é pouco, precisaria de mais tempo para realizar ainda mais do que já fazemos e pensamos. Mas hoje, como presidente da ABIH, meu papel é motivar as pessoas a fazerem, porque não sou egoísta, e fico muito feliz quando vejo as pessoas realizando, executando. Percebo que depois que entrei no turismo de Sergipe os olhares se modificaram, você olha a Orla e já está melhor, os beach clubes aumentaram, os bares da praia estão muito bem-cuidados. O governo está fazendo uma superestrutura que ficará fantástica, que é a Orla Sul. Agora, cabe a cada um arregaçar as mangas e fazer por onde, e recorrer ao governo para o necessário, mas com diálogo, porque sou do diálogo e não do embate.
PVS - O São João é um período muito esperado pelos nordestinos, mas aqui em Sergipe, no quesito divulgação de programação, sempre houve reclamação por parte do trade turístico. Como o senhor avalia isso?
JWS – Somos fortes na cultura junina e eu concordo que Sergipe é sim o país do forró. Particularmente, não tenho queixas com relação a isso, porque nos anos anteriores não fazia parte do trade, porém, essa era realmente uma queixa recorrente. Esse ano, cidades como Campina Grande e Caruaru, e outros locais com tradição em festas juninas lançaram cedo as programações, em abril, então, de certa forma, aqui aconteceu com certo atraso mesmo, e isso me deixou preocupado de os eventos juninos em Sergipe não conseguirem agenda junto às atrações nacionais. Os eventos estão voltando com força total e com cachês elevados. Digo isso porque o Grupo Vidam tem dois grandes eventos, o réveillon, que já está no calendário turístico do estado e cuja programação pretendo lançar ainda neste período junino, e agora o São João na Fazenda Vidam Escurial, em São Cristóvão.
PVS - Fale um pouco sobre o São João na Fazenda.
JWS - Será um São João diferenciado, assim como foi o réveillon. Será para uma quantidade limitada de pessoas, cerca de três mil, em dois dias, 16 e 17 de junho, com as melhores atrações. Será um São João para a família e terá espaço para criança, recém-nascido, para o idoso, para o pet, igualzinho ao que fizemos na Ilha do Sol, na festa da virada de ano. Vai ser um São João com a pegada de turismo.
PVS - E como seria essa pegada?
JWS - Eu te digo! O turismo tem as bases que dão a sustentação e que as pessoas, muitas vezes, não percebem. Você não faz turismo sem a arte, pois é ela quem atrai as pessoas para visitar os lugares e acreditamos que, na sociedade, das pessoas que fazem turismo apenas 10% não têm um olhar cuidadoso para a arte. As pessoas gostam de arte, elas podem até não terem competência e sensibilidade para consumir, mas elas gostam. Depois, cultura. Não se faz turismo sem cultura e o meu sonho é ver barulho organizado nessa Orla todos os dias, com batuques, com forró, com bumba meu boi, com o que Sergipe tiver, e tenho certeza de que conseguirei, com os governos, transformar a Orla em um espaço ativo para o turista.
PVS – Haveria mais alguma base?
JWS – A terceira base seria a música. Não se faz turismo sem música, e o turismo de eventos é o que mais atrai as pessoas. Nesse quesito estou feliz porque teremos o Pré-Caju de volta. Insisti, defendi, persisti... defendi de tal forma esse retorno que até parece que evento é meu, mas na verdade ele não é, ou melhor é nosso, é patrimônio do nosso Estado.
PVS - Como o senhor acha que o réveillon Vidam impactou o estado?
JWS - O réveillon Vidam veio para inspirar todo mundo a fazer, porque vai para o Vidam quem pode pagar; vai para o São João na Fazenda quem pode pagar, mas a população precisa ter a sua festa de final de ano patrocinada pelo poder público, do São João patrocinado pelo público. O que não pode acontecer, e o que eu defendo, é ter um hóspede luxo e não ter opções para ele, de não ter um ambiente adequado e com conforto para tomar um vinho ou um licor. E é isso o que oferecemos nos eventos Vidam.
PVS – O turismo de luxo é caro?
JWS - Quando falo de turismo de luxo não falo em ser caro, falo no sentido de gostar das coisas boas, das coisas organizadas, de bom-gosto. Defendo o turismo de luxo, de requinte, patrocinado por mim em meus empreendimentos. Como representante da ABIH defendo todos, do maior ao menor, defendo até o isoporzinho na beira da praia curtindo a festa.
PVS - Enquanto ABIH, que tem de pousadas a hotéis de luxo como associados, o senhor pretende incentivar tais eventos ou lutar para que eles aconteçam?
JWS - Eu defendo tudo, mas cada um no seu quadrado. O que ocorre na ABIH é que as pessoas que estavam na ponta, ou seja, os empreendimentos com menor potencial, entendiam que a associação era para quem tinha potencial de destaque, quem tinha dinheiro, ou seja, os grandes hotéis, e estou descontruindo isso. Temos 130 instituições de habitação e hotelaria de todos os tipos, de hostel a hotéis, mas apenas 37 instituições são filiadas. Porém, acredito que até o final deste ano chegaremos a 90% de filiação, isso se não chegarmos a 100%. Seremos acolhedores dos projetos deles, porque minha posição é dar todo o suporte para que tenham muito sucesso no negócio deles. A ABIH não é da elite, ela é de quem está procurando vencer nos negócios abertos.
PVS - Qual o principal entrave para o sucesso da ABIH em Sergipe?
JWS – Olha, não vejo entrave, até porque a associação já estava sendo muito bem conduzida por Antônio Carlos e Daniela.
PVS - Mas parece não ter sido suficiente, porque de 130 estabelecimentos existentes, apenas 37 filiados...
JWS – Talvez. Eu tenho um perfil de abertura, de diálogo. Gosto de ir in loco, de acompanhar de perto, por isso vou fazer encontros no interior, mas já começamos a mostrar o que ganharão estando na ABIH. Não sou uma pessoa radical, mas serei apenas em um sentido: para os associados, tudo e mais alguma coisa. Para os que não são, portas abertas para que venham fazer parte; para além disso não posso oferecer nada, porque não é justo defender os não associados da mesma forma que os associados, que estão investindo. Se paga tão pouco, cerca de R$ 4 por apartamento, ou seja, uma pousada com 10 apartamentos paga R$ 40 para fazer parte e ter o suporte da ABIH.
PVS – Se o senhor tivesse que traçar um roteiro turístico para Sergipe, que interligasse os principais pontos do Estado, na sua opinião, como seria? Se é que já não tenha esse plano em mente ou em desenvolvimento.
JWS – Eu tenho foco para o turismo náutico; para a hospedagem e hospitalidade, que é o hotel; e tenho o projeto do turismo rural, do ecoturismo da fazenda. A fazenda é para ser um ambiente de negócios do meio rural, um ambiente de natureza.
PVS – Este ano teve um grande evento em Itabaiana, uma feira agropecuária de porte nacional. É esse o tipo de evento que o senhor pretende levar para a Fazenda Vidam Escurial?
JWS – Levaremos tudo o que for preciso. O meu propósito inicial é motivar as pessoas a fazerem. Queria ver todo mundo realizando e eu dando apenas o suporte, mas, se os outros não fizerem, aquilo que eu acreditar, farei.
PVS - Sergipe tinha um grande potencial para o turismo de negócios, que infelizmente foi perdido.
JWS – Está voltando agora com o Centro de Convenções, e voltará com todo o peso, e digo isso porque aqui no Vidam Hotel Aracaju temos três pessoas fazendo orçamento e elas não estão dando conta. Acontecerá muita coisa boa a partir de julho, eventos locais, regionais e nacionais.
PVS – Qual a sua “visão de futuro” do turismo sergipano para o ano de 2023?
JWS - Acredito que em 2023 já ocuparemos um patamar de reconhecimento de destino, então lutaremos junto com a prefeitura de Aracaju, governo do Estado e com as prefeituras do interior para fazermos um alto investimento na divulgação do destino Sergipe para o Brasil, e para o mundo.
PVS – Quando não está trabalhando, o que o senhor costuma fazer no cotidiano?
JWS – Pratico atividade física, leio, gosto muito de esporte aquático, de festa, de dançar, de conversar com as pessoas, de natureza, da fazenda, dos animais. Tudo isso me alimenta. Temos uma Orla fantástica para fazer caminhada, e não tem sensação melhor do que, no final da tarde, fazer um passeio pela praia, nessa areia limpa e plana, na qual você anda sem se cansar muito.
PVS – O senhor viaja muito pelo Brasil e pelo mundo. O que traz de cada viagem dessas para os seus empreendimentos?
JWS - Trago ideias, trago uma coisa e coloco em prática. Se você for à faculdade, em Paripiranga, na Bahia, verá tem uma réplica da Torre Eiffel, uma ideia que trouxe de Paris porque Paripiranga é carinhosamente chamada de Paris. Durante o dia tenho, no mínimo, 20 ideias, e consigo colocar em prática pelo menos, cinco delas.
PVS - Me fale um pouco sobre o senhor. Quem não sabe da sua história tem a certeza de que nascera em família com bens materiais.
JWS – Nada, pelo contrário. Minha família era muito pobre. Se você falar de fome, de miséria, de pobreza, eu entendo sobre tudo isso. Nasci em uma casa de taipa no povoado de Paripiranga. Sou filho único e meus pais, hoje já falecidos, trabalhavam na roça para o nosso sustento. Fomos para a cidade e acreditei no estudo. Sempre achei que a educação é a melhor forma de superar todos os obstáculos. Na época não podíamos pagar escola particular, então, estudei em escola pública e as deficiências eram grandes. Pulei vários obstáculos. Queria fazer Medicina, mas logo me conscientizei de que não passaria, então cursei Letras, na Federal de Sergipe. Me formei, passei em concurso do Banco do Brasil, onde trabalhei por oito anos e meio, mas como não era aquilo que queria pedi demissão e fundei a escola, e foi a partir desse ponto que as coisas aconteceram para que chegasse até aqui.
PVS – Por ter tido uma infância difícil, o senhor costuma facilitar as coisas para seus filhos? O que senhor ensinou a eles?
JWS – Tenho duas filhas, Vitória e Dandara, e nunca facilitei nada, pelo contrário (risos). Ensinei a elas princípios, e o princípio que nos orienta é a simplicidade, porque não tem mais lugar para arrogância no mundo. Minhas filhas são pessoas muito simples. A educação que dei e que ainda dou para elas é pautada nos valores da simplicidade, da ética. E dentro da ética, a honestidade, além de muito trabalho, muito trabalho e muito trabalho, de foco em si, mas com perspectiva na solidariedade.
PVS - Pretende passar quanto tempo à frente da ABIH?
JWS – O mandato é de dois anos, mas posso desistir a qualquer momento, porque não faço contrato no qual seja obrigado a ser infeliz. Estarei lá ou aqui no hotel até o dia em que eu seja feliz. No dia que ficar infeliz eu deixo no outro dia.
PVS – E o que o senhor espera deixar de legado quando sair da ABIH?
JWS – Espero deixar uma mudança de mentalidade para o empreendedorismo. Quero que os empresários do setor sejam empreendedores hoteleiros. Ser empreendedor é um leque grande, é mais que abrir algo. Eles têm que ter na cabeça de que são os responsáveis por fazerem a história deles, que não devem esperar pelos outros. Esse será o meu legado. Também pretendo deixar tudo alinhado para que Sergipe esteja pronto para receber qualquer pessoa, qualquer celebridade do mundo. Esse é o desafio.
PVS – Se tivesse que definir turismo, em uma palavra, qual seria?
JWS – Hospitalidade, porque hospitalidade é muito mais que hospedagem. Hospitalidade é a capacidade que o agente de turismo tem para receber o turista com um sorriso, e a sensibilidade de perceber que o sorriso do turista representa a sua felicidade, porque foi ele o responsável pela promoção daquela felicidade, do bem-estar, de uma vida feliz.
PVS – Se tivesse que dar um conselho de vida para outras vidas, qual seria?
JWS – Tenha foco. Defina o que você quer e foque nele. Depois de focar, trabalhe os princípios do sucesso, que são: conhecimento, honestidade e muito trabalho.