E a sua saúde mental, como está?
11/10/2023
Por Andréa Moura
Nesta terça-feira, 10 de outubro, foi comemorado o Dia Mundial da Saúde Mental. E a pergunta que eu te faço é: “à quantas anda” a sua saúde mental?
Você tem dormido direito? Tem tido tempo de fazer coisas das quais gosta? Seus pensamentos têm sido positivos? Você tem tido gatilhos que disparam vulnerabilidades ou disfuncionalidades? Você conhece os seus talentos ou dons? Você se sente amado? Você é feliz? Você acredita que a vida que a rede social te mostra é verdadeira?
Essas são algumas, das muitas perguntas que poderíamos elencar aqui e que, de certa forma, dão um pouquinho da dimensão de como está a qualidade da nossa saúde mental. Sim, saúde mental engloba tanta coisa, que muitas vezes nem nos damos conta, mas o fato é que pequenos gestos e ações do nosso cotidiano colaboram para que ela esteja Ok, ou nem tanto!
Quer exemplos desse 'nem tanto'? Vamos a eles: é aquele relacionamento tóxico (familiar, amoroso, de amizade); é o chefe abusivo; é a pressão para passar no vestibular de primeira e pior, em algum curso de elite imposto pelos pais e para o qual a pessoa em questão não tem a menor aptidão...
A gente sabe que o mundo tem parecido estar de ponta a cabeça, na verdade, em 2001, Nando Reis escreveu a canção Relicário, e lá atrás ele já afirmava que o mundo estava ao contrário e ninguém havia reparado. Parece que a coisa só piorou de lá para cá!
A vida tem acontecido tão rapidamente, nos é exigido cada vez mais praticar uma corrida louca em busca de um pódio que nunca chega, de prêmios para serem exibidos para uma sociedade doente.
Exigem, veladamente, um pseudossucesso e uma falsa qualidade de vida baseada sempre no TER: o corpo perfeito, o rosto padrão harmonizado (a maioria desarmonizado), a casa dos sonhos, o(a) companheiro(a) tipo capa de revista, a família estilo comercial de margarina, o carro do ano, as pulseiras da balada mais “topezeira”, as fotos mais transadas do Instagram...
Alta performance x saúde mental
É absurdamente alta a quantidade de livros publicados ensinando a ter alta performance nos negócios, no amor, na vida (parece que tudo virou um jogo de videogame); a como ser um milionário em pouco tempo... Nunca se buscou tanto ganhar dinheiro, para não ter tempo de desfrutar dele, ou pior, de algum dia ter que usá-lo na tentativa de reaver a saúde perdida por força de uma negligência que tinha como desculpa a busca por qualidade de vida.
E é aí onde mora a incoerência carregada de ironia: qualidade de vida está em SER e não no TER.
Erroneamente, a maioria de nós, quando pensa em problemas relacionados à saúde mental, refere-se apenas à depressão ou à ansiedade, talvez por serem as mais faladas pela mídia, mas existem outras facetas. Transtornos alimentares (como bulimia, anorexia, compulsão alimentar), bipolaridade, Transtorno de Personalidade Borderline, TOC, esquizofrenia, estresse pós-traumático. Tudo isso está englobado em 'problemas relacionados à saúde mental' e precisam ser observados.
A comercialização de antidepressivos e estabilizadores de humor tem crescido ano após ano no Brasil. De acordo com o Conselho Federal de Farmácia, entre 2017 e 2021, a venda desses medicamentos aumentou cerca de 58% no país.
Infelizmente, a cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio no mundo, segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde. O site worldômetro , que apresenta diversas estimativas em tempo real, mostra que este ano, ou seja, em apenas 10 meses, 831.312 pessoas cometeram suicídio no mundo. É como se, de janeiro até outubro, toda a população de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, tivesse deixado de existir. Somente ontem, no Dia Mundial da Saúde Mental, 2.909 pessoas tiraram a própria vida.
Outro dado alarmante, desta vez específico do Brasil, foi apontado recentemente pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com base em uma série histórica feita pela entidade no período de 2012 a 2021, com dados do Ministério da Saúde: cerca de mil crianças e adolescentes, com idades entre 10 e 19 anos, cometem suicídio no Brasil, a cada ano. A SBP afirma que, a cada dia, três crianças cometem suicídio no país.
Em matéria publicada recentemente pela Agência Brasil sobre o estudo, a presidente do Departamento Científico de Prevenção e Enfrentamento das Causas Externas na Infância e Adolescência da SBP, Luci Pfeiffer, disse que certamente o número de casos é maior, pois há subnotificação.
Ela explica que a causa de suicídio de crianças e adolescentes é multifatorial, tendo sempre algo da família, do desenvolvimento, e uma “exigência excessiva de todos os cantos”. Entre os fatores de risco mencionados por ela está a violência intrafamiliar, que vai além de agressões físicas. “Muitas vezes, os pais, sem perceber, agridem o filho com palavras como ‘você não devia ter nascido’, ‘você é insuportável’ ou ‘você não serve para nada’”, exemplifica.
Pequenas atitudes que fazem diferença
Eu acredito, piamente, que acompanhamento com psicólogo deveria ser política de saúde do SUS, ainda mais em um país tão desigual e que faz com que sua população seja exposta a diversos traumas, cotidianamente. Aliás, nascer é o primeiro trauma que a gente passa, pois saímos do aconchego do ventre materno, onde estamos protegidos (geralmente), mal chegamos ao mundo e o médico já nos recebe com uma palmadinha no bumbum para nos fazer chorar e atestar que está tudo bem.
Acompanhamento psicológico não é algo acessível para todos, por isso, quem tiver essa possibilidade que usufrua dela, e não se deixe levar pelos preconceitos ainda existentes. Além disso, observar o próprio comportamento é um caminho necessário, e mudar algumas atitudes, também.
Exemplos: parar de ver aqueles programas de TV que dão a impressão de que a qualquer momento o sangue escorrerá pela tela, porque só fala sobre violência; ler bons livros; conversar com pessoas que tenham pensamentos e atitudes positivas; ter um ponto de apoio para a sua caminhada espiritual, independente da religião ou sentido de religiosidade que se tenha; estar perto de pessoas que gostam verdadeiramente de nós; praticar alguma atividade física; estar em contato com a natureza; pegar sol em horários considerados ideais, e com a devida proteção, para evitar doença de pele. Você já viu alguém infeliz na praia? Difícil, né?