Pesquisa revela: rastreamento do câncer de mama no Brasil é equivocado

17/10/2024


O rastreamento mamográfico no Brasil, cuja aplicação é regimentada por dois protocolos específicos, não é organizado, mas sim oportunístico. Além disso, há formação inadequada de ginecologistas, obstetras e médicos de família e medicina preventiva no Brasil, deficiência que leva os profissionais a interpretarem equivocadamente o sistema Breast Imaging Reporting and Data System (BI-RADS™), padrão utilizado mundialmente para rastreamento e relatório de câncer de mama.

Esses diagnósticos foram encontrados através de uma pesquisa inédita no Brasil, a “Knowledge related to breast cancer screening programs by physicians in Brazil”, liderada pelo médico mastologista e membro da Comissão de Tratamento Sistêmico da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) Regional São Paulo, Marcelo Antonini, e publicada no periódico científico Einstein, do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (Hospital Israelita Albert Einstein).

O objetivo do estudo foi avaliar o conhecimento de ginecologistas, obstetras e médicos de família sobre o rastreamento mamográfico no Brasil, Já que, para que haja o rastreamento mamográfico, é necessário que a paciente procure um serviço de saúde, passe por consulta com médico geral, ginecologista ou médico de família, para que a mamografia, principal exame de rastreamento, seja solicitada.

Segundo o estudo, no Brasil, a taxa de interpretação incorreta do BI- RADS™” é alta, já que 46,3% das respostas dadas por ginecologistas e obstetras estavam erradas, índice que foi de 77,9% entre médicos de família. A falta de adesão às diretrizes do sistema pode resultar em diagnóstico tardio ou manejo inadequado dos casos de câncer de mama.

O mastologista Marcelo Antonini afirma que abordar as lacunas de conhecimento e aprimorar as práticas no rastreamento do câncer de mama, com médicos preparados para seguir protocolos padronizados são fundamentais, pois são medidas que representam um aprimoramento na qualidade do atendimento oferecido às mulheres brasileiras na detecção da doença, que deve chegar a 74 mil novos casos este ano, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer.

A pesquisa contou com a participação de membros da (SBM), Gabriel Duque Pannain, Gabriela Silva Solino de Souza, Odair Ferraro, Andre Mattar, Reginaldo Guedes Coelho Lopes e Juliana Monte Real. “O estudo é uma ferramenta fundamental, pois revelou a necessidade de educação continuada e treinamento dos médicos que estão à frente do rastreamento da doença, essencial para diminuir os impactos sobre a mortalidade por câncer de mama no País”, afirmou o médico Marcelo Antonini.

O questionário da pesquisa foi enviado através de e-mail, WhatsApp e SMS para nove mil ginecologistas e obstetras, e para 5.600 médicos de família e medicina preventiva. Do total, 59% dos ginecologistas e obstetras participaram da pesquisa. Já entre os médicos de família, o total de participantes foi de 48,2%.

Rastreamento incorreto = cenário preocupante

Dois protocolos regem o rastreamento mamográfico no Brasil: o do Ministério da Saúde, que preconiza o rastreamento bianual dos 50 aos 69 anos de idade; e o elaborado em conjunto pela Sociedade Brasileira de Mastologia, Federação Brasileira das Associações de Ginecologia Obstetrícia e do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, que recomenda a realização do exame anualmente, para mulheres entre 40 e 75 anos de idade.

A pesquisa revelou que aproximadamente 75% dos médicos de família se alinham à recomendação do Ministério da Saúde, mas o restante, cerca de 25%, não segue qualquer protocolo. Já entre ginecologistas e obstetras, aproximadamente 33% consideram o rastreamento entre 50 e 69 anos; 43% veem a necessidade do exame entre 40 e 75 anos; e 24%, no entanto, não seguem qualquer protocolo.

Para o mastologista da SBM, a pesquisa evidencia um cenário preocupante. “Equivale a dizer que um quarto dos médicos que estão na linha de frente do rastreamento do câncer de mama no país não sabe a forma correta de fazê-lo”, afirmou Dr. Marcelo Antonini. Ele evidenciou, ainda, que 39% dos ginecologistas e obstetras, e 20% dos médicos de família consideram o ultrassom de mamas como parte do rastreamento, quando, na verdade, ele é um exame complementar à mamografia.

Diante de um achado clínico suspeito de câncer de mama, a pesquisa revelou uma conduta não ideal dos médicos, pois o correto é solicitar a biópsia e complementar com exames de imagem, mas a grande maioria acaba pedindo somente o exame de imagem, ou encaminha a paciente a outro especialista. “Esta conduta representa um atraso no diagnóstico e, consequentemente, no tratamento”, alertou o mastologista.

Com informações da SBM



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