ARTIGO: Não nos matem! Deixem-nos viver!

07/03/2023


*Andréa Moura

Há quem acredite que a morte aconteça somente quando é dado o último suspiro. Sim, claro, fisiologicamente este é o momento final e para ele não tem jeito a dar, e infelizmente ele tem sido imposto para milhares de brasileiras, diariamente, como mostrou o levantamento ‘Elas Vivem: dados que não se calam’, da Rede de Observatórios da Segurança, publicado no início deste mês de março e que apontou que a cada dia de 2022, uma mulher foi vítima de feminicídio.

E quando uma mulher morre dessa maneira tão violenta, por não querer mais conviver, na maioria das vezes, com aquele que a agredia física, verbal e psicologicamente, ou seja, com aquele que a matava lentamente, nós, mulheres, morremos um pouquinho.

Morremos um pouco quando sabemos que a cada minuto, duas de nós são estupradas, tendo o corpo e a alma dilacerados por esse ato monstruoso. As vítimas desse crime hediondo podem até continuar vivas, mas algo dentro delas foi assassinado: talvez o sonho, o jeito belo de enxergar a vida, a dignidade, a leveza... ou seja, morremos de novo.

Morremos mais um pouco quando alguém, no meio de uma conversa, seja entre amigos ou no ambiente de trabalho, nos manda calar, corta nosso raciocínio, invalida nossa opinião só porque somos mulheres.

Morremos, também, quando nos sentimos inseguras em andar pelas ruas, seja pelo dia ou pela noite; quando temos a obrigação de compartilhar com uma amiga ou familiar nossa viagem em carro de aplicativo; quando estamos em um transporte público e temos que nos encostar na lataria para não termos nosso corpo e intimidade invadidos pelo toque alheio.

Morremos quando estamos em uma festa e somos obrigadas a dançar com quem não desejamos, para não sermos agredidas.

Morremos mais um tiquinho quando fazemos o mesmo trabalho que um colega do sexo masculino, mas no contracheque dele tem mais $$$ do que no nosso.

Nos matam quando demitem uma de nós do emprego sob a alegação de que menstruamos, de que temos TPM e engravidamos.

Esses são, apenas, alguns tipos de morte impostos a nós, mulheres, todos os dias, e nos fazem criar falsas definições sobre quem somos, o que somos, o que podemos ser e onde podemos chegar; sobre quais espaços podemos e devemos ocupar. Nos matam em vida quando tiram nossos sonhos ou nos fazem acreditar que não merecemos o melhor.

Por tudo isso, e por tudo o que não foi citado neste texto, mas acontecem aos borbotões a todo momento, neste 8 de março o pedido que faço é: NOS DEIXEM VIVER! Vivas somos melhores e certamente ajudaremos o mundo a ser um lugar ainda mais incrível. Não firam a nossa essência, respeitem a nossa existência!

 

*Andréa Moura é Jornalista, Assessora de Imprensa, Jornalista Amiga da Criança (Andi) e editora do Pra Você Saber.



Comentários

Jhoy comentou:
Na real!!!!!

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