Felicidade se estuda na faculdade

31/10/2018


Em um mundo em que as pessoas estão cada vez mais conectadas, mais próximas virtualmente e mais distantes, pessoal e fisicamente, uma das consequências tem sido refletida na qualidade da vida que temos levado: altos índices de stress, de ansiedade, pouca afetuosidade, cotidiano acelerado, pessoas muitas vezes avessas a fazer novos laços de amizade fora do ambiente virtual. Mas, será que isso tudo é salutar para nosso emocional? Será que isso tem feito com que sejamos pessoas mais felizes? Particularmente, creio que não.

Meninos e meninas com celulares em mãos ou com as carinhas “enfiadas” em tablets ou computadores jogando/vendo coisas na net e com os joelhos intactos, estão sendo mais felizes que os da minha época, por exemplo, que se danavam rua acima e rua abaixo, e comumente chegavam em casa com os tampos arrancados de quedas, e choravam pelo menos mais duas vezes, além do momento em que caíam quando estavam brincando: a segunda na hora de passar merthiolate pela primeira vez, porque o bicho ardia pra cacete, e o terceiro choro quando tomava bronca dos pais, não necessariamente nesta ordem.

O fato que as novas gerações, Y e Z, também conhecidas como gerações digitais, carregam com mais força questões como individualidade e forte ligação aos valores pessoais, quesitos que, no momento de estarem fora da casinha da conectividade, acaba dificultando muita coisa, e gerando a tal da infelicidade. E eis que chegamos ao ponto crucial deste post. Essa introdução toda foi somente para levar você, leitor, para o texto a seguir, que não é meu, é da Gisele Pimenta/Secom UnB, mas que eu achei muito legal e decidi compartilhar porque a iniciativa é bastante interessante.

O texto foi publicado em julho deste ano, mas como a iniciativa ainda está sendo realizada, vale muito a pena conhecer o projeto da Universidade de Brasília, que é pública, federal, e espero que tenha a ideia seguida por outras e outras e outras instituições país afora, independente de ser pública estadual ou federal, ou de ser da iniciativa privada.

Por Gisele Pimenta/Secom UnB

Você cursaria uma disciplina da grade curricular regular chamada FELICIDADE? A pergunta foi feita pela equipe de reportagem a três estudantes que estavam na Faculdade UnB Gama (FGA), campus que concentra cinco cursos de engenharia. Habituados a fórmulas matemáticas, os jovens receberam a questão com olhares desconfiados, mas não hesitaram em uma resposta unânime: “Sim!”

Alunos Felipe Agustini, Mateus Lemes e Caio Franco - Foto de Luis Gustavo Prado/Secom UnB

“Os cursos têm uma carga teórica e prática muito pesadas, uma matéria assim aliviaria as rotinas, o estresse e até poderia melhorar o nosso desempenho nas disciplinas tradicionais”, é o que pensa Caio Franco, aluno de Engenharia Espacial. “Seria interessante uma abordagem que nos ajudasse a lidar melhor com a pressão de ter que passar de ano, tirar boa nota, se formar. Aliar outras atividades às obrigações poderia fazer com que o aluno encarasse as situações de forma mais leve, mantendo a busca por bons resultados”, opina.

Embora a experiência na universidade seja individual, o sentimento de Caio é comum entre muitos estudantes de graduação. Observando essa conjuntura e considerando relatos de vários alunos, um grupo de professores da FGA começou a pensar em medidas concretas para melhorar a qualidade de vida no ambiente acadêmico. Uma delas é a disciplina 'Tópicos Especiais em engenharia de Software - Felicidade', que será ofertada no segundo semestre letivo.

Com foco em autoconhecimento, afeto, cuidado, solidariedade, respeito às diferenças e diálogo, o objetivo é apresentar estratégias para ajudar os estudantes a lidar com fatores adversos do dia a dia. “Não é uma porta para a felicidade e não trará um modelo fechado para isso. A ideia é tentar entender como podemos ser felizes aqui no campus e o que fazer para evitar a infelicidade”, explica o professor Wander Pereira, responsável pelas aulas.

Não há pré-requisito para cursar a matéria, de quatro créditos, ofertada às terças e quintas-feiras, das 14h às 15h50. Qualquer aluno de graduação da Universidade de Brasília, independentemente do curso ou do campus, pode fazê-la, mas haverá prioridade aos estudantes da FGA. Das 240 vagas previstas para o próximo semestre, 40 estão reservadas aos que fazem algum tipo de acompanhamento psicológico na UnB. Neste último caso, o interessado precisa procurar a coordenação da FGA para tentar vaga na disciplina.

DINÂMICA DAS AULAS

Inspirada em matérias de extremo sucesso ofertadas nas universidades norte-americanas de Harvard e Yale, a disciplina será baseada em encontros dialogados, atividades individuais e em grupo, leituras e construção coletiva de textos e outras vivências. “Pensar nessa disciplina é um desafio. Sabemos o que está começando, mas não o que vem depois. Estamos experimentando. Vamos usar técnicas consagradas pela psicologia, que sugerem o que fazer para, por exemplo, se ter mais resiliência e saber lidar com frustrações e expectativas. Também queremos dialogar sobre estratégias de enfrentamento da insegurança emocional, desamparo, timidez, sensação de abandono, depressão e ansiedade”, enumera Wander Pereira.

Ao longo do semestre, as aulas contarão com a participação de outros professores e de profissionais de fora do âmbito universitário para debater questões específicas ou apresentar performances artísticas e culturais. A avaliação de cada aluno será composta pela participação ativa em sala de aula, além da produção e apresentação coletiva de produto final, que traga uma ação concreta de felicidade, seja em forma de música, dança, teatro, jogo, aplicativo, página na internet ou vídeo.

Embora a disciplina seja voltada à qualidade de vida dos alunos e do campus, Wander reforça que a pretensão não é oferecer apoio profissional a cada estudante, em seus problemas e questões individuais. “Existem mecanismos, internos e externos à UnB, para atender às demandas psicológicas, psicossociais e psiquiátricas de cada um. Aqui a gente vai construir momentos de bem-estar, trazendo os indivíduos para o coletivo, e não dar atenção específica a quem está mais triste ou mais depressivo”, ressalva.

ABORDAGEM INSTITUCIONAL

A oferta da disciplina integra um conjunto de ações da FGA voltadas à saúde mental e à qualidade de vida no campus. Entre elas, acolhimento dos calouros no início do semestre, eventos esportivos, festivais, apresentações artísticas e encontros pedagógicos. Recentemente, o campus criou uma comissão para tratar do tema, formada por quatro professores, pedagoga, psicóloga e representante discente.

Coordenador do curso de Engenharia de Software, André Barros de Sales começou a pensar a saúde mental no âmbito institucional após ouvir inúmeros relatos de situações vivenciadas por estudantes e seus familiares. “Nossos alunos são o que a instituição têm de mais precioso. Passei a me perguntar sobre o que eu podia fazer para melhorar a realidade do campus. Outros professores também compartilhavam deste sentimento, então, resolvemos agir”, conta o docente.

“Vivemos um contexto maior de sociedade na qual falta perspectiva às pessoas. Há uma desesperança muito grande nos indivíduos, em vários aspectos da vida, e a UnB não pode ignorar essa realidade. Comissões e ações institucionais podem gerar insumos e propostas de acompanhamento mais preciso e estatístico”, completa outro integrante da comissão, professor Edson Alves.

Para a coordenadora-geral da FGA, Paula Meyer, é fundamental propiciar momentos de convivência e de conhecimento mútuo entre alunos, professores e técnicos. “Queremos que nossos estudantes venham para seus cursos com satisfação. E fazer da universidade um ambiente mais produtivo e feliz”, resume. A Universidade de Brasília oferece outros serviços de apoio psicológico aos estudantes e servidores e trabalha para consolidar uma rede interna de assistência. Uma das ações previstas é a implementação da política institucional de saúde mental e qualidade de vida, em fase de elaboração. (A foto principal é de Isa Lima/Secom UnB)



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