Instituto de pesquisa de SE e Universidade do Chile estudarão juntos esquistossomose e doença de Chagas

10/01/2019


Qual o comportamento da Doença de Chagas e da Esquistossomose no Brasil e no Chile, e o que têm de semelhante nos dois países? O que é preciso para erradicar ou, pelo menos, reduzir os índices de infecção dessas doenças nos locais onde ainda são consideradas alarmantes? Qual a distribuição geográfica e taxas de ocorrência dos vetores, quais as características dos parasitas, e qual o comportamento das doenças nos diversos hospedeiros? Qual a ‘identidade molecular’ desses parasitas? Essas são algumas perguntas que o trabalho em conjunto dos doutores Ruben Ángel Mercado Pedraza, da Universidad de Chile, e Claudia Moura de Melo, pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP) – localizado em Aracaju/SE - pretende responder.

A parceria foi iniciada há pouco mais de um ano, quando a Dra. Cláudia Melo foi ao Chile para estudos de pós-doutoramento. Os laços entre os pesquisadores ficaram ainda mais estreitos após a visita recente do Dr. Ruben Mercado a Sergipe. Ele veio desenvolver atividades de pesquisa e cooperação acadêmica- científica nos Laboratórios de Doenças Infecciosas e Parasitárias (LDIP) e de Biologia Tropical (LBT) do Instituto, com quem ele também pretende firmar parceria.

“Vamos estudar o predomínio da doença de Chagas e também o parasita, o Trypanosoma, além dos diferentes hospedeiros, um deles, o cachorro (canídeos), buscando saber, por exemplo, de onde procedem essas infecções, se são de animais silvestres ou de regiões peridomiciliares. Porém, durante minha estada ao ITP vislumbramos mais estudos com outros pesquisadores, como a Dra. Verônica Sierpe, no que diz respeito a investigar outros parasitas em crianças - além da esquistossomose – como os blastocistos, por exemplo, que são muito pouco estudados. Também pretendemos fazer parceria com o Dr. Rubens Madi, na área de estudos de parasitas de animais tropicais”, comentou o pesquisador chileno.

Dr. Ruben Mercado e Dra. Cláudia Moura

A ideia principal é que, a partir de amostras biológicas coletadas para as análises de Esquistossomose e doença de Chagas, no Brasil e no Chile, se abra um leque de avaliações de outras infecções parasitárias intestinais e sanguíneas que acometem crianças para poder conhecer, principalmente, as características das infecções e as vias de transmissão. O pesquisador explicou, ainda, que mesmo com as altas quedas nas taxas das doenças infecciosas no sistema de saúde chileno, o que muito teve a ver com a melhoria do saneamento básico no país, algumas regiões ainda apresentam problemas de saúde de origem parasitária, porém, em escalas infinitamente menores que as registradas no Brasil, em virtude, bem verdade, das diferentes dimensões territoriais que os dois países possuem.

DIFERENÇAS CONTINENTAIS

“O Chile seria como o estado de São Paulo, e o Brasil é um continente, portanto estamos falando de extremos”, frisou o pesquisador, que leva em conta o tamanho continental do país para sugerir explicações para a carência de distribuição do sistema de saneamento básico brasileiro. Dr. Ruben Mercado evidenciou, ainda, que a conquista da melhoria da saúde da população chilena em diversas áreas foi possível graças ao avanço na área sanitária.

Segundo ele, no Chile a taxa de mortalidade de recém-nascidos é muito baixa porque quase todos os partos são realizados em clínicas ou hospitais. Muitas doenças infecciosas estão sendo controladas devido a melhoramentos sanitários da população e a programas como o “Plan Nacional Enfermedad de Chagas”. Disse, ainda, que em Santiago, capital chilena, quase todas as pessoas têm acesso a água potável, sanitário e tratamento de lixo, condições, que em conjunto, fazem com que as doenças infecciosas e parasitárias diminuam. “Mas, no Brasil, pelas próprias características do país, talvez não seja possível haver tanto controle assim e, infelizmente, as melhorias sanitárias não chegam a toda população”, lamentou o pesquisador.

Por isso, ele ressaltou a importância de financiamento de estudos e projetos como os realizados por meio do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (PPSUS), cujo conceito ele conheceu durante o evento ‘Marco Zero’ dos projetos, pois fora realizado durante o período em que esteve em Sergipe. “Achei muito interessante, principalmente para a Parasitologia, pois somente com estudos conseguiremos ter uma visão clara do que acontece e de como controlar, de como reduzir muito as infecções, por isso, destinar recursos para estudos, como esta que acontece aqui no Brasil, é uma saída importante”, destacou Dr. Ruben Mercado.

Na edição 2018, o PPSUS selecionou oito projetos do ITP, dentre eles o projeto “Avaliação e acompanhamento pós-tratamento da esquistossomose em crianças de zero a 16 anos da área rural do município de Riachuelo/SE”, desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Doenças Infecciosas e Parasitárias (LDIP) e do Programa de Controle da Esquistossomose (PCE). O PPSUS é financiado pela FAPITEC/SE e tem como objetivo apoiar financeiramente o desenvolvimento de pesquisas que visem contribuir para a resolução de problemas prioritários de saúde da população brasileira para o fortalecimento geral do SUS, atendendo às peculiaridades e especificidades de cada unidade federativa do Brasil e, desta forma, contribuindo para a redução das desigualdades regionais.

LABORATÓRIOS COM VIDA

De acordo com Ruben Mercado, o que ele mais gostou durante a estada no ITP foi ver a participação ativa de alunos nos laboratórios, sejam alunos da Iniciação Científica ou dos cursos de Mestrado e Doutorado. “Você vê que eles estão efetivamente trabalhando, fazendo estudos, produzindo, e isso me impressionou muito, porque é o que permite fazer pesquisas, ter publicações. Também gostei, claro, da qualidade dos laboratórios do Instituto”, observou.

A parceria com o Dr. Ruben Mercado, de acordo com a Dra. Cláudia Melo, foi possível em função da alta aderência e complementaridade das áreas de pesquisa dos dois pesquisadores, pois, segundo ela, um dos pontos importantes no processo de colaboração interinstitucional é a manutenção da continuidade dos estudos, e divulgação científica a partir de intensa mobilidade e produção científica conjunta entre os parceiros. Em função disso, os pesquisadores firmaram acordo para a construção de uma rede de colaboração científica ITP-Unit-UChile em estudos sobre infecções parasitárias contemporâneas, inclusive no contexto de fluxos migratórios.

“Queremos receber alunos do Chile e poder enviar os nossos para lá também. O ano que passei no Chile foi enriquecedor. Quero poder estender essa oportunidade, de fazer ciência com outros olhares, para mais pesquisadores através dessa rede de estudos em parasitologia que estamos formalizando”, declarou a pesquisadora do ITP. E esse tempo de intercâmbio foi bem avaliado não apenas pela pesquisadora brasileira, mas também pelo colega chileno. Segundo ele, a impressão deixada pela Dra. Claudia Melo foi a melhor possível, pois participou de diversos aspectos importantes dos trabalhos realizados no laboratório da Facultad de Medicina da Uchile.

“A presença da Dra. Cláudia Moura foi muito positiva, todos gostaram muito dela. No período em que esteve conosco publicamos artigos em conjunto e quero que outras publicações aconteçam, desta vez em revistas de maior impacto para que possamos postular financiamentos de projetos de pesquisa em conjunto”, contou o Dr. Ruben Mercado. (A foto principal foi retirada da Internet e representa uma pessoa que desenvolveu a esquistossomose, também conhecida como barriga d'água. O texto e a foto dos pesquisadores foram retidados do site do Instituto de Tecnologia e Pesquisa - ITP).



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