O que a pandemia lhe fez perder? - ARTIGO

12/08/2021


* Por Andréa Moura

Quase um ano e meio após o surgimento do coronavírus no Brasil, tenho uma pergunta para lhe fazer: qual foi a sua perda durante esse período? Sinceramente, acho meio improvável que qualquer ser humano neste planeta diga que não sofreu uma perda sequer causada pela Covid-19. “Ah, eu não tive não, ninguém da minha família faleceu por causa do novo coronavírus”, alguém pode falar.

E eu direi: você é uma pessoa de muita sorte por não ter perdido uma pessoa querida de maneira abrupta, e ter ficado com a sensação de que a morte dela não foi real, de que a ficha ainda não caiu. Essa falta de “materialização” do óbito acontece por duas situações. A primeira, porque a doença geralmente instala-se de modo repentino e evolui muito rapidamente, na maioria dos casos. A segunda, pela falta do velório antes do sepultamento.

A Covid-19 nos fez enxergar como certos ritos são importantes, cultural e socialmente. A dor do luto, que já é algo difícil em momentos “normais”, ganhou uma roupagem um tanto mais cruel, acredite. Tudo bem, a doença não lhes tirou um familiar. Mas, e um amigo? Ou o amigo/familiar de um grande amigo? Um colega de trabalho?

Você conseguiu executar o plano de viajar para conhecer aquele lugar dos sonhos, depois de passar anos juntando a grana necessária? O casamento que foi planejado com todo carinho aconteceu? Para muitos, inclusive, não só a festa foi para o “espaço” como o próprio relacionamento. Separação daqueles com casamento sacramentado, nem me fale.

O Colégio Notarial do Brasil informou que o número de divórcios feitos em cartórios de notas, País a fora, subiu 26,9% nos cinco primeiros meses de 2021 com relação ao mesmo período de 2020. Em números absolutos foram 29.985 separações de janeiro a maio deste ano, contra 23.621 nos cinco primeiros meses do ano passado.

Me responda com sinceridade: você não desenvolveu algum Transtorno Obsessivo Compulsivo, o famoso TOC, por causa da doença? Não passou a lavar mais as mãos ou a usar álcool em gel para tudo, em um intervalo de dois minutos? Não rejeitou aquele encontro com o/a crush que estava no radar por medo de pegar a doença, afinal de contas, o vírus não faz nascer bolinha roxa na testa como forma de aviso para manter a distância, não é mesmo?

Você chegou a ficar mais de um ano (ou ainda está) sem beijo na boca, sexo ou qualquer outro tipo de carinho, tão necessário ao humano e que nos faz sentir vivos? Perdeu a silhueta que tinha porque comeu demais como forma de acalmar a ansiedade, ou passou a dormir demais como fuga diante de tanta notícia ruim?

Acredito que muita gente acabou “se encontrando” em algum desses itens, ou sentiu falta de tantos outros. E para quem ainda diz que não houve mudança na vida por causa da pandemia sugiro fazer uma revisão detalhada dos últimos meses, porque certamente encontrará alguma perda. Aliás, talvez essa negação já seja uma, a da sensatez, ou até mesmo um ganho: o do negacionismo.

É verdade: a pandemia fez aflorar medos, angústias e transtornos psicológicos de várias formas. Também é verdade que as coisas parecem estar voltando para o eixo, e que um período tão difícil pôde, inclusive, causar boas revoluções internas e despertar a tão desejada reforma íntima. Mas, não se engane, mesmo o lado bom só conseguiu emergir após o surgimento da dor, tenha sido ela física ou emocional.

Teve quem ganhasse coragem para fazer a transição capilar e aceitar os fios crespos ou cacheados, ou aceitar os cabelos brancos que teimosamente insistiam em aparecer, e eram sufocados por tinturas e tonalizantes, tudo isso em nome de uma ditadura da beleza, na qual “Narciso acha feio o que não é espelho”. Muita gente passou a valorizar as expressões artísticas, pois, foram elas que conseguiram, não sem muito esforço, segurar a sanidade que não foi roubada pelo vírus.

Houve também quem tenha feito o caminho de volta no que diz respeito a conhecimento, ou melhor, autoconhecimento. Cresceram as buscas por respostas sobre quem sou, de onde vim, para onde irei, como posso ser melhor. Resumindo, sobre como a vida é composta por energia e espiritualidade.

Creio que depois de todo esse discorrer você esteja se perguntado: tá, e o que você está querendo dizer, então, depois de tanta letrinha junta? Sinceramente, não sei ao certo, porém, a minha vontade era fazer com que mais pessoas pudessem pensar sobre a transitoriedade da vida, na verdade, do momento, e perceber que em um breve piscar de olhos ela pode mudar, para melhor ou para pior.

Chamar a atenção para a necessidade de uma autoavaliação, de quando em vez (rs), para que possamos ajustar o foco e arrumar as velas em busca de mares mais calmos, no qual possamos navegar sabendo que, de repente, uma tempestade pode nos atingir, mas tendo a certeza de que assim como a calmaria, ela também passará e um novo ciclo surgirá. Acho que também para jogar luz em algo que já sabemos: que a vida passa e que boas oportunidades podem não voltar a acontecer. Então, agarre tudo aquilo que te faz bem e feliz, e não tente agradar aos outros, porque esse é o primeiro passo para ser infeliz.

A pandemia veio para gerar o caos, é verdade, porém, depois do caos há o renascimento, a reorganização e o jeito como acontecerá depende apenas de nós. Sejamos como a ave mitológica fênix, que ao sentir que iria morrer montava um ninho com incenso e outras ervas aromáticas para ser incinerada pelos raios do sol e, das cinzas, fazer nascer um novo pássaro.

*Andréa Moura é Jornalista, idealizadora e Editora Chefe do Pra Você Saber,

e CEO da Andréa Moura Comunicação e Eventos.



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