Seis coisas que aprendemos com a luta das mulheres em 2018
09/01/2019
Com o encerramento de 2018, a ONU Mulheres lembrou histórias de algumas das ativistas que se levantaram contra injustiças, desafiaram estereótipos e inspiraram a todos em diversos locais do mundo. E é importante sempre falar neste tema, porque, no Brasil, segundo sites de notícias nacionais, apenas na primeira semana de 2019 foram 21 casos de feminicídio no país, ou seja, 21 mulheres foram mortas pelo simples fato de serem mulheres e de terem, por exemplo, se negado a namorar o cidadão ou a reatar o casamento abusivo.
Pauladas, golpes com facão, tiros e outros tipos de violência vitimaram fatalmente 21 mulheres em menos de nove dias no Brasil, isso sem falar nos outros tipos de agressão física e psicológica registradas nas delegacias, e nas tantas outras que ainda não viraram casos de polícia. Por isso, decidimos reproduzir esta matéria da ONU Mulheres, porque falar sobre o tema é sempre muito, muito importante.
De acordo com a ONU Mulheres, o ano de 2018 foi marcado pela resistência das mulheres, pois, do lançamento do fundo de amparo jurídico #TimesUp para combater o assédio sexual nos locais de trabalho nos Estados Unidos, ao prêmio Nobel da Paz entregue àqueles que combatem o uso da violência sexual como arma de guerra, o ano passado teve como tema central a defesa dos direitos das mulheres. Ativistas da igualdade de gênero do mundo todo estão levantando suas vozes para denunciar a desigualdade e unir as comunidades por um futuro melhor para todas e todos.
1 - Não deixar ninguém para trás
Nidhi Goyal é uma feminista indiana que trabalha com direitos de pessoas com deficiência e igualdade de gênero. Como pesquisadora, escritora, treinadora, comediante e ativista, ela trabalha para alertar sobre a intersecção entre o movimento de defesa dos direitos das pessoas com deficiência e o movimento de mulheres. “Para mim, a vitória real ocorrerá quando não tivermos mais que explicar que as mulheres com deficiência pertencem aos dois movimentos. Aí saberemos que não há mais separações. Quando eu não tiver que justificar que diferentes grupos precisam se engajar com o movimento das mulheres com deficiência. Precisamos começar a abrir esses espaços e diálogos”, disse Nidhi. “Precisamos começar com a premissa de que esses espaços pertencem a todos”, declarou.
2 - Mentoria é importante
A queniana Purity Soinato Oiyie escapou de uma mutilação genital e do casamento infantil quando tinha apenas 10 anos. Hoje, ela sonha em abrir uma escola para meninas em sua comunidade, Maasai. Mas Purity já está fazendo diferença nas vidas das meninas de sua comunidade ao criticar a mutilação genital feminina e o casamento infantil.
Ao visitar escolas nas comunidades rurais e conversar com meninas e meninos sobre sua própria experiência e os efeitos negativos da mutilação genital feminina, Purity não apenas está ajudando a erradicar essa prática, como está mostrando às meninas a possibilidade de um futuro diferente.
“Elas ficam surpresas ao ver uma menina Maasai escolarizada”, disse ela. “Hoje, meu pai está tão orgulhoso de mim. Ele diz para todo mundo que eu fui a Nova Iorque. Agora todos os pais da minha comunidade que não queriam que suas meninas estudassem dizem a elas para terminar o colégio, como eu”.
3 - Apoio às sobreviventes
A sérvia Marija Andjelkovic foi uma das primeiras ativistas a levantar o tema do tráfico de pessoas na região dos Balcãs. Sua experiência no trabalho de prevenção serviu de inspiração para a criação de uma organização não governamental, a ASTRA – Ação anti-tráfico, que fornece apoio e serviços a sobreviventes desse crime, defendendo melhoras nas políticas públicas. “Tenho trabalhado com esse tema há 18 anos”, disse Marija. “Eu continuo porque não posso dizer a uma vítima que meu projeto foi concluído e que não há recursos para que eles possam recorrer a um advogado ou a um médico. Quero um sistema sustentável em vigor, apoiado pelo governo, para que as vítimas de tráfico de pessoas não precisam de mim ou da ASTRA”, declarou.
4 - Persistir frente a obstáculos
Levou mais de 30 anos para que as avós de Sepur Zarco recebessem justiça pelo estupro e pela escravização sistemática que sofreram por parte dos militares durante o conflito armado interno na Guatemala (1960-1996). Popularmente conhecidas como “abuelas”, as 15 sobreviventes levaram seu caso à mais alta corte da Guatemala em 2011, que condenou dois militares da reserva por crimes contra a humanidade e estupro, assassinado e escravização, garantindo 18 medidas de reparação para as sobreviventes e suas comunidades.
Essa foi a primeira vez na história que uma corte nacional processou a escravização sexual durante conflito armado utilizando uma legislação nacional e a lei criminal internacional. Agora, as “abuelas”, incluindo Demesia Yat, ainda estão levantando suas vozes para pedir justiça às suas comunidades, incluindo educação para as crianças, acesso à terra, serviços de saúde e medidas que combatam a extrema pobreza que afeta essa população há gerações. “Nossos esforços, em primeiro lugar como mulheres e em segundo como avós, é muito importante. É verdade que tivemos justiça. Agora pedimos educação para nossos filhos e netos, para que os jovens da comunidade tenham oportunidades e não sejam como seus idosos, que não puderam estudar”, disse Demesia. “Nossos pedidos estão com o governo. Esperamos muitos anos por justiça, agora temos que esperar por reparações”.
5 - Solidariedade muda vidas
No provisório campo de refugiados muçulmanos rohingya de Balukhali, em Cox’s Bazar, Bangladesh, é comum ouvir história de casas queimadas e crianças desaparecidas. As mulheres rohingya dão relatos de maridos assassinados e estupros, de perda de esperança na humanidade. “Sendo uma refugiada, sei as dificuldades que outras mulheres rohingya enfrentam nos campos”, disse Nur Nahar, mentora de um centro de atendimento a mulheres (Multi-Purpose Women’s Centre) no campo de Balukhali. Nur, agora aos 35 anos, chegou a Bangladesh quando tinha 7, e agora trabalha para ajudar mulheres e meninas recém-chegadas. “Vim ao centro por quatro dias em uma semana e ensinei corte e costura para as recém-chegadas. Como estou aqui há muito tempo, sou parte do grupo de apoio às mulheres e forneço informações para outras refugiadas, as indico para os serviços apropriados, converso com elas. As mulheres precisam de apoio uma das outras para lidar com esta crise”, disse.
6 - Ouvindo as próximas gerações
“Teríamos um mundo melhor se mulheres e meninas se sentissem seguras em espaços públicos. As mulheres seriam mais ativas, mais produtivas”, disse Salma Belhassine, uma ativista de 21 anos da Tunísia. Salma e suas colaboradoras estão trabalhando em um aplicativo de celular chamado SafeNes, que tem como objetivo alertar e acabar com o assédio sexual contra mulheres em espaços públicos.
Por meio do SafeNes, usuárias poderão reportar casos de assédio sexual, conectar-se facilmente a organizações não governamentais caso precisem de ajuda, assim como aprender defesa pessoal e entender os procedimentos legais para a denúncia. “A melhor coisa que as jovens podem fazer é barulho, falar por si mesmas. Porque não somos o futuro, somos o presente. Não podemos esperar que os adultos façam as coisas por nós. Temos que nos defender e defender as gerações futuras”, disse Salma, que é parte do Programa de Lideranças Jovens liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em parceria com a ONU Mulheres. (Fonte e foto: ONUBR)