Sou sergipano oxente, o que é que há?
25/10/2018
Misericórdia viu! De nada me adiantou bater as sete freguesias o mês inteiro, de magrela ou a pé, pois, não consegui bigu com ninguém; tampouco ficar sem xepar o pão Jacó da tia Zefa e a sacanagem do Toinho, porque eu não baixei o lombo de jeito nenhum!!! Eita que agora tico e teco dessa menina entraram em desavença de vez. Este deve ter sido o seu pensamento, caso você não seja sergipano. Mas, eu te digo: eles não entraram em colapso. E além de estarem bem saudáveis, graças a Deus, vão patrocinar a tradução deste sergipanês, e sem nota de rodapé, porque seria muita sacanagem (e não a anterior, rs) explicar a frase somente no final do texto.
T R A D U Z I N D O:
De nada me adiantou andar por vários lugares o mês inteiro, de bicicleta ou a pé, pois, não consegui carona com ninguém; tampouco ficar sem ir comer, mesmo sem ser convidada, o pão francês/de sal da tia Zefa e o salgadinho de pimentão/queijo/salsicha e tomate do Toinho, porque eu não emagreci de jeito nenhum. E aí, melhorou? Claro que sim, não é mesmo!
A frase acima está repleta de regionalismos sergipanos e o que seria de nós sem eles, importantes marcas culturais que nos diferenciam e nos tornam, ao mesmo tempo, tão especiais em um país de dimensões continentais como o Brasil, não é mesmo? Quer ver um exemplo de que o regionalismo identifica a nós, sergipanos? Basta alguém soltar em São Paulo um, “cabrunco” e, certamente, se tiver algum outro sergipano no lugar vai virar e perguntar: és de Sergipe? Certeeeeza que vai, porque essa palavra, que é um palavrão multifacetado para nós, pois serve para denominar alegria, tristeza, raiva, espanto e por aí vai, é simplesmente nosso e de mais nenhum outro lugar.
Esse regionalismo é um traço da nossa sergipanidade, que é o sentimento de orgulho do Estado onde nascemos; de pertencimento ao local onde vivemos e constituímos família, de sangue ou amizade; onde aprendemos que viver é uma arte, um ofício que precisa de cuidado e de rega diariamente; de mostrar o quanto temos orgulho da nossa rica cultura, que tão simploriamente foi representada diante do Museu da Gente Sergipana, na Avenida Ivo do Prado, em Aracaju, mmaaasss, este é assunto para outro post.
E a data para que a gente possa estufar o peito como pombos e comemorar nossa sergipanidade é 24 de outubro que, por muito tempo, dividiu os holofotes da importância com o 8 de julho, dia da emancipação política de Sergipe. E sabe o motivo? Não? Digo agora. Em 8 de julho de 1820 D. João VI assinou o decreto que tornou Sergipe independente da Bahia, porém, a carta com o decreto só chegou ao destino final em 24 de outubro de 1824, não me perguntem o motivo, juro não saber, rs...
Por isso, por muitos anos, a emancipação no Estado foi comemorada nestes dois momentos, mas garanto que em apenas uma data era feriado, viu. Após ter sido fixada a data de 8 de julho como a da emancipação, por ter sido o dia da assinatura do decreto, 24 de outubro passou a ter a importância simbólica preservada e, ao longo das duas últimas décadas, ganhou mais força a questão afetiva cultural, de fortalecimento da nossa identidade, do nosso amor ao que somos, às nossas origens, às nossas raízes miscigenadas compostas pelos brancos europeus, negros africanos e índios, pelas diversas heranças deles recebidas, a exemplo da que fora deixada pelos negros escravos que, para fugir das senzalas vestiam saias brancas e todos pintados de branco para parecerem fantasmas, saíam rodopiando como parafusos, dando origem a um dos mais belos grupos folclóricos de Sergipe, Os Parafusos, do município de Lagarto.
Como este há muitos outros grupos que transmitem o que somos, a nossa história, a nossa formação. E conhecer cada um deles é importante. Ensinar às futuras gerações o que representam é a garantia de que essa sergipanidade será perpetuada, é ter a certeza de que o nosso oxente não será motivo de cabeça baixa, e que o nosso ‘oitcho’, tão engraçado ao ser ouvido, pode ser facilmente explicado, afinal de contas, pelas bandas de cá, há muitos anos, viveram espanhóis, que não deixaram apenas descendentes galegos com olhos claros, deixaram também um pouco da cultura e do idioma, portanto, não esqueçam que oito, em espanhol, é ocho, e no bom e velho portunhol se transformou em... Portanto, conhecer de onde viemos é, como disse Tobias Barreto, sergipanidade. (A foto principal é de André Moreira)