“Este novo normal exigirá muito mais de nós!”
30/06/2020
Após mais de 90 dias com as portas cerradas, a partir da próxima quinta-feira, dia 2 de julho, os salões de beleza localizados na região da Grande Aracaju estarão reiniciando as atividades. Este é um período de muita incerteza, afinal de contas, o fato de reabrir as portas não garante que a clientela voltará a procurar os serviços como antes e, mesmo que isto aconteça, a demanda terá que ser “encolhida” em virtude das limitações impostas, como por exemplo, a permissão de funcionar atendendo a 50% da capacidade instalada.
“Acredito que dentro das possibilidades foi uma decisão sensata para tentar minimizar riscos de contaminação. Da nossa parte, toda a estrutura do salão já está pronta seguindo os protocolos de higienização e biossegurança”, afirmou a Relações Públicas, Palestrante, amante da gastronomia (Ex-Master Chef) e empresária Luciana Braga, proprietária do Maison Garcia, um dos principais estabelecimentos do setor em Aracaju. O Maison completou o primeiro ano de vida em 1° de junho, portanto, dos 12 meses de existência funcionou a “todo vapor” por pouco mais de oito, em virtude da pandemia causada pelo novo coronavírus. Recomeçar é a palavra de ordem e o desafio é grande, mas, pelo jeito, desafio é uma das palavras abraçadas e acolhidas por Luciana Braga na existência dela, por isso, ela não a paralisa.
“Independentemente do impacto causado seguiremos estritamente todas as determinações. Faremos as escalas recomendadas seguindo o percentual de funcionamento autorizado. A partir de agora é que descobriremos, na prática, como o mercado se comportará. Espero por surpresas positivas!”, declarou a empresária, que contou ao Pra Você Saber um pouco sobre a trajetória dela até chegar ao setor da beleza, e como o Maison Garcia se preparou para o retorno às atividades.
PRA VOCÊ SABER - A tua atividade profissional não era no ramo da beleza, e você ficou muito conhecida pelos sergipanos por causa da gastronomia. Por que decidiu abraçar uma área tão diferente? A pandemia te gerou algum tipo de arrependimento, neste sentido?
LUCIANA BRAGA - Na verdade, minha área de formação é a Comunicação. Sou graduada em Relações Públicas pela Universidade de São Paulo (USP) com Certificate in Marketing Management pelo Insper. A Gastronomia é uma paixão que ganhou espaço na minha vida, mas, sou multitarefas em tudo que faço (risos). A pandemia não me gerou arrependimento algum, porém, muitas reflexões. Alguns negócios tiveram, inclusive, oportunidade de crescimento, o que admiro muito em alguns empreendedores. Este não foi o nosso caso pelas limitações legais, mas, pudemos explorar o e-commerce associado ao delivery, o que nos rendeu bons frutos. Portanto, a resposta é: nunca devemos ficar parados. Neste período participamos de uma campanha para apoiar os profissionais da beleza e tive o prazer de roteirizar um vídeo lindo que ajudou as pessoas a enxergarem os profissionais da beleza, neste momento de pandemia, de uma nova maneira. Assistam e apoiem a causa, quem puder, #EuApoioOsProfissionaisDaBeleza
PVS - Quantos profissionais trabalham no seu salão, entre cabeleireiros, atendentes, maquiadoras, enfim, pessoas ligadas diretamente à atividade fim, e os que atuam na área administrativa?
L.B. - Temos em torno de 45 profissionais técnicos da beleza e 15 de suporte, entre auxiliares, caixa, manobrista, estoque e financeiro, entre outros.
PVS - Desde a segunda quinzena de março que o governo estadual editou decreto suspendendo as atividades comerciais em Sergipe, ou seja, pouco mais de três meses sem atendimentos em um setor cuja maioria dos profissionais tem o salário baseado na quantidade de atendimentos. Como foi esse período para seus profissionais? O salão conseguiu dar algum tipo de apoio a eles? De qual tipo?
L.B. - Temos uma gestão financeira sólida, o que nos permitiu auxiliar nossos profissionais neste período. Por estratégia, preferimos manter a ação em sigilo. O que podemos compartilhar é que oferecemos aos nossos profissionais produtos como colorações, oxidantes, máscaras e selagens para a execução dos serviços em domicílio, lembrando que foi um serviço ofertado por parte dos nossos profissionais, por aqueles que se sentiram aptos a prestá-los, mas, sem nenhum ganho para o salão, foi para fins de renda própria. É importante lembrar que nem todos podem executar serviços nas casas dos clientes por diversos motivos, como por exemplo, por pertencerem a algum grupo de risco, morarem com alguém que seja de grupo de risco, ou por estarem apreensivos demais para sair de casa, mesmo diante da falta de renda.
PVS - Saberia me dizer se todos os seus funcionários conseguiram o auxílio emergencial oferecido pelo governo Federal?
L.B. - Infelizmente nem todos conseguiram. Como o cadastro tinha algumas regras, até mesmo por falta de informação no preenchimento, alguns não foram beneficiados.
PVS - De que maneira esses três meses deixaram o salão, financeiramente falando? Não precisa falar em números, apenas em aspectos gerais.
L.B. – A situação de todos os empresários é bem delicada. Os impostos não pararam de chegar, não houve liberação de pagamento. As contas também não pararam de ser cobradas, o aluguel continuou, então, sem dúvidas, todos do setor voltarão mais frágeis, sem falar os que fecharam, o que é uma perda muito grande para o mercado. É uma verdadeira bola de neve, pois, menos postos de trabalho significa menos renda, menos dinheiro circulante e mais negócios fecham pela redução nas vendas. O impacto não é somente no setor da beleza, afeta todo nosso Estado.
PVS - O salão estava em plena ascensão quando surgiu a pandemia. Você acredita que a retomada, após esse período, acontecerá de modo satisfatório? Por quê?
L.B. - Não ficamos parados. Nosso e-commerce nos manteve na lembrança dos clientes, nossas redes sociais também estiveram bastante ativas, mantivemos nossos colaboradores e profissionais próximos, com diálogo constante. Além disso, fizemos uma campanha com cerimoniais – já que temos um setor de Noivas e Festas - e daremos início ao nosso projeto de Brunchs para apresentar a nova coleção de vestidos de noivas em encontros individuais, pois, o desfile teve que ser cancelado, claro. Tudo isso nos mantém esperançosos de que voltaremos sim, com toda a energia e otimismo necessários para continuarmos nos superando a cada dia, rumo à excelência.
PVS – O governo estadual não liberou a volta do setor no último dia 29 de junho e, até esta terça-feira, 30, não havia dito quando seria possível a reabertura. Como você avaliou toda esta situação?
L.B. - Para mim foi frustrante. Para os profissionais, desesperador. Para o mercado, um desastre. Os salões de beleza já são altamente regulados pela Vigilância Sanitária. Precisamos seguir regras rígidas, somos fiscalizados constantemente, precisamos cumprir protocolos. Agora, novos protocolos também estão prontos para serem seguidos. Não representamos o risco que está sendo associado à nossa atividade. O ambiente de salão é muito mais seguro, por exemplo, do que um supermercado, sem mencionar motéis, considerado serviço essencial e que foi um dos primeiros a terem o funcionamento autorizado pelo Governo.
PVS - Quanto você investiu para a reabertura do salão, uma vez que a expectativa inicial era de que ela acontecesse no dia 24 de junho?
L.B. - Investimos bastante para adequação às novas exigências e fomos muito além. Contratamos uma Engenheira de Segurança do Trabalho para a realização de um laudo, com visita técnica e capacitação. Além disso, toda a comunicação visual foi executada para informar sobre as medidas de prevenção à Covid-19. A equipe inteira, profissionais, suporte e administrativo realizou curso de “Guia de Segurança e Higiene no Salão de Beleza”. Adquirimos os EPI’s necessários, temos face shield para profissionais, propés e máscaras descartáveis para os clientes usarem, inclusive, durante a coloração. Também adquirimos uma nova autoclave e uma nova esterilizadora de escovas de cabelo. Fizemos, ainda, a sanitização e a dedetização do nosso salão, incluindo uma limpeza geral e a renovação da limpeza dos aparelhos de condicionadores de ar, assim como a reorganização do espaço físico para respeitar as distâncias impostas. Todos os materiais de uso pessoal foram higienizados, individualizados e lacrados para serem abertos na frente do cliente, além de protocolos rígidos de limpeza constante de todos os espaços de uso comum, também com novas regras de convivência entre nossa equipe. Tudo para a nossa segurança e a segurança dos clientes.
PVS - Você considera que o salão voltará a ter o mesmo “movimento” que possuía antes da pandemia, neste novo normal? Por quê?
L.B. - Precisamos acreditar que sim, mas, sabemos que para recuperarmos o patamar original de movimento ainda demorará um pouco. Vínhamos em uma crescente constante, mês a mês. Teremos uma meta audaciosa para buscarmos crescer ainda mais após o retorno das atividades, mas, para isso acontecer, teremos que nos reinventar e descobrir este novo normal, que exigirá muito mais de nós.