“UFS tem importância reconhecida durante pandemia pelo novo coronavírus”

06/07/2020


Por Andréa Moura

Soteropolitano que vive em Aracaju há 21 anos, Dr. Valter Joviniano de Santana Filho é professor da Universidade Federal de Sergipe desde 2009 e, ao longo de mais de uma década de vivência da Instituição pode afirmar que a conhece muito bem, pois, mesmo antes de assumir a Vice-reitoria, em dezembro de 2019, já havia desempenhado papéis de gestão tanto em São Cristóvão, quanto no município de Lagarto. Graduado em Fisioterapia, é mestre e doutor em Fisiologia pela Universidade de São Paulo (USP).

Em virtude da vida acadêmica/científica publicou artigos em revistas científicas indexadas de amplitude internacional, e integrou o laboratório do Professor Mark W. Chapleau na The University of Iowa, nos Estados Unidos, onde adquiriu novas técnicas científicas que são utilizadas nos projetos desenvolvidos nas linhas de pesquisa “Regulação cardiocirculatória – modelos de hipertensão” e “Mechanisms of baroreceptor activation and factors determining sympathetic nerve activity in normal and pathologic states including hypertension, atherosclerosis and aging”.

Dr. Valter Santana é credenciado no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFS e participou da criação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas, do qual também é membro efetivo. De 2010 a 2013 atuou na equipe diretiva do Campus de Lagarto, tendo sido Diretor Acadêmico Pedagógico, responsável por coordenar a implantação do currículo acadêmico de todos os cursos do campus. Em 2013 foi nomeado Diretor Administrativo da unidade e, no final daquele mesmo ano, assumiu a assessoria do gabinete do Reitor da UFS, onde permaneceu até 2015, quando voltou à Lagarto, desta vez, para ser o Superintendente do Hospital Universitário daquele local.

Durante a gestão do Dr. Valter Santana o HUL se transformou em unidade referência no interior sergipano no atendimento à população em diversas especialidades. Em virtude da pandemia causada pelo novo coronavírus, ele tem dividido o tempo entre a Vice-reitoria da UFS e a coordenação do Comitê de Prevenção e Redução de Riscos frente à infecção pelo vírus, grupo que tem obtido destaque na sociedade sergipana em virtude do grande apoio que tem dado aos governos locais no combate e prevenção à COVID-19. Conheça mais um pouco do trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Dr. Valter Santana nesta entrevista exclusiva ao Pra Você Saber.

PRA VOCÊ SABER - Em março, a UFS montou o Comitê de Prevenção e Redução de Riscos frente à Infecção pelo novo coronavírus, do qual o senhor é o coordenador. Como tem sido esse trabalho, visto que a UFS está sendo demandada pela sociedade em diversas frentes, mas, principalmente, nas questões que envolvem pesquisas sobre a doença e os atendimentos médicos nos hospitais universitários.

VALTER JOVINIANO DE SANTANA FILHO - O Comitê de Prevenção e Redução de Riscos Frente à Covid-19 foi uma importante iniciativa da UFS decorrente da percepção da iminente chegada da pandemia e das possíveis consequências. O objetivo foi preparar a gestão e a comunidade universitária para o enfrentamento à doença e como colocar as forças e potenciais da Universidade à serviço da sociedade. A velocidade com que a pandemia chegou nos obrigou a ajustar regulamentos para proteger alunos, técnicos-administrativos e docentes, além de todo o pessoal terceirizado da universidade. Adotamos o trabalho remoto e outras importantes medidas de distanciamento. Garantimos, assim, a proteção da comunidade e também a preservação do importante patrimônio público no que é considerado atividade essencial.

A Universidade interage com a comunidade externa através do ensino, da pesquisa, da extensão e do importante serviço dos hospitais universitários. Para o enfrentamento à Covid-19 os pesquisadores de diversas áreas estão atuando em simulações, produção de equipamentos para maior proteção dos profissionais da linha de frente de combate, assessoramento técnico, análises sociais e econômicas, dentre outras ações. Merece destaque o posicionamento dos nossos hospitais universitários, que são responsáveis, através de pessoas e de suas estruturas físicas, por grande parte dos leitos de terapia intensiva voltados para Covid-19. Tanto em Aracaju, com o Hospital Universitário de Sergipe, quanto no interior do Estado, com o Hospital Universitário de Lagarto, temos feito diferença. São hoje 34 leitos apenas de terapia intensiva voltados para pessoas com quadros graves de Covid-19, isso corresponde a quase 20% do total dos leitos públicos de terapia intensiva, e ainda temos a previsão de abertura de mais 10 leitos.

Temos, ainda, um importante projeto que surgiu da interação do Comitê, da gestão da UFS e de seus pesquisadores com as demandas de diagnósticos do sistema de saúde, que é o EpiSergipe. Este programa tem várias frentes de testagem e trará informações mais precisas sobre a evolução da pandemia em nosso Estado. Mas, ressaltamos que em todas as áreas do conhecimento temos pessoas estudando e oferecendo o conhecimento que possuem para que Sergipe enfrente essa situação com o mínimo de sofrimento para nosso povo.

PVS - O que foi previsto ser feito pelo comitê, mas, até o momento não pode ser realizado? Por quê?

V.J.S.F. - O Comitê interage com Grupos de Trabalho múltiplos e tem atuado para viabilizar o máximo de pactuações possível, algumas dessas de extrema relevância e que merecem destaque: com o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho e o Ministério Público do Estado de Sergipe fizemos a primeira grande ação de testagem. Deste trabalho inicial surgiu o movimento #ToComaUFS, que busca arrecadar fundos para novas iniciativas de enfrentamento. Estamos atuando junto ao governo do Estado para a expansão de inquéritos sorológicos e da avaliação social e econômica, procurando entender os diversos aspectos e impactos da pandemia na vida das pessoas. Ainda há muito o que se fazer e os recursos econômicos terminam sendo um dos entraves, mas, que não estão impedindo a Universidade de oferecer à sociedade o que tem de melhor.

PVS - O que foi e tem sido feito, neste período de pandemia, em prol dos estudantes que estão em situação de vulnerabilidade social e econômica e, também, por aqueles que integram o Programa de Residência Universitária. Qual o percentual destes alunos no total de universitários?

V.J.S.F. - Uma grande preocupação nossa com a brusca chegada da pandemia foi a rápida adoção de medidas limitadoras do deslocamento das pessoas. A Universidade Federal de Sergipe tem uma maioria de alunos com perfil social extremamente sensível de vulnerabilidade socioeconômica. Com isso, a redução de mobilidade, distância das famílias e impacto direto nas economias familiares poderiam gerar graves dificuldades para enfrentamento à Covid-19 por parte dos nossos alunos. Imprevisibilidade da duração, impacto no emprego, na mobilidade e na subsistência das famílias levou a Universidade a tomar importantes decisões. A primeira delas foi a manutenção de todas as bolsas e auxílios da assistência estudantil e o imediato pagamento de um auxilio alimentação específico para períodos de fechamento do Restaurante Universitário e do Refeitório de Lagarto. Ressaltamos que a Universidade estava pronta para a expansão desse sistema quando a pandemia chegou.

A segunda medida foi a realização de investimento complementar próximo a R$ 1.500.000,00, elevando o valor mínimo percebido por aluno beneficiado para R$ 400,00. Lembremos que, desde 2018, a UFS já tem planos de ação que são voltados à inclusão digital e que beneficia mais de 3.000 alunos. Todos os demais auxílios que cobrem moradia, transporte, creche, apoio pedagógico, manutenção acadêmica, apoio ao esporte e à cultura, inclusão e Programa de Residência Universitária, foram mantidos. Nas ações de assistência estudantil são beneficiados, de forma contínua, cerca de 20% dos alunos. Durante as atividades regulares mais de 50% dos alunos recebem algum tipo de benefício relacionado à assistência quando se incluem o Restaurante Universitário e os refeitórios.

PVS - No mês de junho os Ministérios Públicos em Sergipe (MPT, MPF e MPSE) lançaram uma campanha de apoio à UFS visando arrecadar fundos para a realização de pesquisas sobre o novo coronavírus. Conte-nos mais detalhes sobre a campanha.

V.J.S.F. - A campanha foi uma grata surpresa! Ela revela, na verdade, o reconhecimento de importantes instituições ao papel estratégico que a UFS tem realizado no combate à pandemia. Houve muito carinho e muito esforço de todos os Procuradores e Promotores de Justiça envolvidos para realizar a campanha e sensibilizar a sociedade para a necessidade de apoiar a nossa Universidade nas ações desenvolvidas. Já estamos realizando muitas coisas e agora temos a expectativa de ampliar, consideravelmente, o espectro de cobertura de nossas intervenções. Com a campanha Sergipe e a UFS ganharão muito.

PVS - Como ficará o calendário letivo da UFS em virtude da pandemia? E as colações de grau, visto que, no Brasil, o tão esperado pico e regressão da curva de contaminação é algo que não dá para ser previsto?

V.J.S.F - Todas as IES federais enfrentarão problemas com o calendário. Na UFS, estamos realizando estudos e tomando providências para reduzir os danos após o retorno das nossas atividades. A pandemia nos obrigou a rever e ajustar processos. No caso das colações de grau, realizamos algumas delas simplificadas e, pouco depois, criamos o processo de colação administrativa não presencial, totalmente virtualizado. Dessa maneira evitamos riscos e garantimos aos alunos a realização da colação.

PVS - O sistema de ensino remoto é uma possibilidade para a UFS? Se sim, como garantir que todos os estudantes terão acesso?

V.J.S.F. - O ensino remoto se apresentou como a única alternativa em todos os países que viveram a pandemia. Da China aos Estados Unidos, todos tiveram que recorrer a esta modalidade de ensino. Penso que é uma realidade que se impõe à UFS. No entanto, estamos buscando todos os meios para garantir acesso à internet e aparelhos eletrônicos aos nossos alunos, sobretudo, aos que constam em nossos bancos de dados como social e economicamente vulneráveis. Para dar certo, o uso do ensino remoto na UFS precisará ser realizado a partir de um planejamento cuidadoso, de uma ação bem articulada com centros e departamentos e de muito cuidado com as condições dos discentes. É um desafio e tanto!

PVS - Mesmo em meio a uma pandemia, a UFS, junto com a UFAL, UFC, UEPB, UESB, UFRPE e IFCeará lançou o doutorado em Ensino. Fale-nos um pouco mais sobre este novo curso da Pós, explique-nos como foi possível este lançamento, os benefícios de ele acontecer em rede e se já há previsão de seleção.

V.J.S.F. - A UFS tem atuado para atender às necessidades de Sergipe trazendo ou consolidando cursos de Pós-Graduação stricto sensu, acadêmicos e profissionais, que transitam na fronteira do conhecimento humano, mas, que estão alinhados com o desenvolvimento do Estado. A formação e qualificação de professores é uma necessidade brasileira. Sergipe, juntamente a outras Instituições de Ensino Superior (IES) do Nordeste, buscou construir a proposta de um programa de doutorado em Rede, o RENOEN – Rede Nordeste de Ensino -, na área de ensino em Ciências e Matemática. Foi um trabalho coletivo encabeçado na UFS, pelo Edson Wartha, do Departamento de Química e outros pesquisadores, com o suporte da Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (POSGRAP).

Essa rede trará o primeiro doutorado do Estado com esse foco e que, a médio e longo prazo, certamente contribuirá para a melhoria de nossos indicadores na Educação. A melhoria da qualidade na Educação brasileira possui grandes desafios e a qualificação de docentes é, certamente, um dos mais importantes, porém, não o único. O curso foi aprovado pelo Conselho Técnico-Científico da Educação Superior (CTC-ES) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), mas, há um caminho burocrático a ser percorrido dentro do MEC, só que, devido a relevância da temática, trabalharemos buscando sensibilizar o Ministério sobre a necessidade do início das atividades da Rede o mais breve possível.

PVS - O Hospital de Campanha da UFS em Lagarto foi uma das grandes conquistas do Estado para o interior, como está sendo a atuação dele neste momento? Existe possibilidade de ampliar a quantidade de leitos?

V.J.S.F. - O HUL tem exercido uma função extremamente importante no cuidado dos pacientes com o novo coronavírus. Hoje, o Hospital é o segundo maior ofertante de leitos para o tratamento de pacientes com diagnóstico de coronavírus no estado de Sergipe. No que concerne a leitos de terapia intensiva, com a instalação do hospital de campanha no HUL, o quantitativo foi triplicado. Já estão em atividade 20 leitos e com a entrada de novos servidores serão instalados mais 10. Para se ter uma ideia, dos 40 hospitais da rede EBSERH, o HUL é o quinto em número de pacientes que ficaram internados com diagnóstico de coronavírus e, mesmo com esse alto número de atendimentos, a taxa de letalidade está em 7%, mostrando a qualidade do atendimento prestado. Devido às limitações físicas e dificuldade de contratação de pessoal não há uma perspectiva do aumento do número de leitos, mas, esperamos que haja um controle efetivo na taxa de contaminação da doença no Estado para que o hospital continue exercendo a função de cuidar da população sergipana com qualidade.

 

Foto: Victor Ribeiro/ASN



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