Fala de BBB sobre obesidade preocupa especialistas

25/01/2022


Especialista em tratamentos para obesidade e cirurgias bariátricas, o médico e pesquisador Cid Pitombo viu com preocupação a defesa feita pelo ator Tiago Abravanel, no BBB22, do conceito de "obesidade saudável". Estudo feito pela Universidade de Birmingham, no Reino Unido, analisou 3,5 milhões de pessoas por 10 anos e concluiu que mesmo com exames saudáveis num primeiro momento, estes obesos seguem tendo riscos de desenvolver problemas cardíacos e vasculares.

Dos pacientes acompanhados, 61 mil desenvolveram doença coronariana com o passar do tempo, apesar de estarem metabolicamente saudáveis no início do estudo. Segundo a pesquisa, os obesos que pareciam saudáveis tinham risco 50% maior de desenvolver doença cardíaca do que as pessoas com peso normal. Além disso, os pacientes que estavam acima do peso tinham um risco 7% maior de ter doenças vasculares cerebrais e o dobro de risco de ter insuficiência cardíaca.

Por isso, a fala do ator Tiago Abravanel durante o BBB22, apesar de importantíssima para exigir o fim da gordofobia, preocupa, sob a luz da Medicina e da Ciência, sobre os aspectos do efeito da obesidade prolongada no organismo. “As pessoas estão confundindo o amor ao próprio corpo e a autoaceitação, com saúde. As pessoas querem conviver com a gordura, não ter que fazer dietas, não usar medicamentos e não fazer exercícios físicos, não recorrer a uma cirurgia bariátrica quando for o caso. E isso é um perigo. É uma desistência de ter de fato um organismo mais saudável e mais longevo”, avalia o médico;

De acordo com Cid Pitombo, a impressão ao ouvir posicionamentos como o feito pelo ator é a ideia de que se acham incapazes de conseguir o emagrecimento, por isso, seria mais fácil deixar como está. “Não, não pode ficar como está, porque lá na frente, quando a idade chegar, muitas outras doenças podem aparecer”, alerta o médico. Cid Pitombo informa que a incidência das doenças relacionadas à obesidade é cada vez maior, à medida em que a pessoa envelhece.

Uma das primeiras doenças a aparecer é a depressão. Segundo o profissional da saúde, o obeso sofre o tempo todo, com as dificuldades físicas e emocionais, com o preconceito e com a falta de visibilidade, pois, realmente, o mundo não está adaptado ao corpo obeso e, por isso, vários obstáculos surgem.

Dr. Cid Pitombo - Foto: Divulgação

“São dificuldades para estudar, trabalhar, namorar, se divertir, se vestir, usar um transporte, fazer a higiene, ter um filho...Então, como desistir de emagrecer? Conheço a realidade de um obeso como poucos conhecem. Estar obeso, principalmente o obeso mórbido, muita das vezes não é uma opção, é uma doença, já definida inclusive pela Organização Mundial de Saúde”, argumenta o especialista Cid Pitombo.

Ele lembra, ainda, que o preconceito surge também porque muitos veem um obeso ou até mesmo um portador de obesidade mórbida como preguiçoso, desleixado, glutão, o que não é verdade, pois o que existe é um ser humano com doença, inclusive, essa patologia com números cada vez mais crescentes.

“Ter preconceito pela condição física, seja ela obesidade ou qualquer outra, é um absurdo. Então penso que quem critica a gordofobia precisa também explicar que estar fora do peso, devido à mudança da configuração corporal, muitas vezes leva a diversas dificuldades. O portador de obesidade tem que lidar com o preconceito do olhar, do comentar. Com isso, estão agravando essa doença, pois o impacto psicológico no obeso muita das vezes pode se tornar eterno e a luta contra a doença invencível. A fobia, ou aversão ao portador de obesidade, em 2022, já não era nem mais para ser discutida. Já era para ter acabado”, enfatiza o médico. 

O excesso de peso

Cid Pitombo explica mais sobre os problemas de saúde diretamente ligados à obesidade. Cientificamente, essa doença aumenta, estatisticamente, o surgimento de dezenas de doenças articulares, musculares, cardiológicas, pulmonares, bem como uma diversidade de doenças metabólicas como diabetes, alteração do colesterol, doenças renais e alguns tipos de câncer.

“E ainda temos as doenças psiquiátricas associadas, como depressão, isolamento social e até suicídio. Não estou afirmando que por ser obeso a pessoa está doente, assim como não falamos que por fumar, também está. O que estamos afirmando é que em ambas as situações se aumenta estatisticamente a chance de doenças quando comparada com a população que está no peso ideal e tem hábitos saudáveis. Me preocupo quando me deparo com influenciadores e famosos difundindo a bandeira da obesidade. Estar obeso não deve ser nunca estimulado. O obeso precisa de orientação médica adequada”, observa.

Doenças ligadas à obesidade

A diabetes é uma doença com maior relação com a obesidade. Diversos são os estudos que demonstram essa relação. O aumento da gordura, principalmente a visceral (dentro da barriga) leva à produção de substâncias que prejudicam a ação da insulina e da glicose. O aumento de peso tem uma relação direta no aumento da pressão arterial, distúrbios no metabolismo do colesterol e triglicerídeos.

Tudo isso leva a uma chance maior de infarto e desenvolvimento de doenças cardiovasculares associadas. As causas e a relação direta entre câncer e obesidade não é tão conhecida como a do diabetes e doença cardiovascular. Mas, em um encontro de especialistas em câncer em 2007, ficou claramente demonstrada a relação entre alguns tipos de câncer e obesidade, como câncer de pâncreas, pulmão, cólon, esôfago, mama e rim, entre outros. E estudos envolvendo quase 60 mil obesos demonstrou a clara relação entre obesidade e depressão. E diversos são os estudos nessa área, afirma o médico.

Já com relação à doença pulmonar, quando se acumula muita gordura no abdome isso irá comprimir o diafragma, o músculo que divide o tórax do abdome. Com isso, comprime-se o pulmão e dificulta a respiração. Além disso, o tórax fica menos flexível. Substâncias inflamatórias também são produzidas e atrapalham a função pulmonar, elevando a incidência de doenças como bronquite e asma. Um exemplo que comprava esse fato foi a alta mortalidade de portadores de obesidade durante a epidemia da Covid-19.

Cid Pitombo afirma que o obeso é um organismo delicado e que pode desenvolver distúrbios musculoesqueléticos. Por isso, difundir atividades físicas em obesos sem a devida orientação, por exemplo, pode levá-lo a lesões. Sabidamente, estar fora do peso aumenta a incidência de doenças osteoarticulares. Cerca de 1/3 das cirurgias de próteses de joelho, no mundo, são em obesos e a grande maioria das de quadril também.

Sobre o especialista

O médico Cid Pitombo é especialista em tratamentos de obesidade e cirurgia bariátrica por videolaparoscopia, tendo se tornado referência nacional em seu segmento de atuação, com 30 anos de experiência, sendo 22 com bariátricas. Ao longo de sua carreira, realizou cerca de 5,5 mil cirurgias. Entre elas, 3,5 mil foram pelo Programa Estadual de Cirurgia Bariátrica do Estado do Rio de Janeiro entre 2010 e 2020, coordenado pelo médico. Tem mestrado e doutorado em temas ligados a obesidade e é editor do livro Obesity Surgery: Principles and Practice. 

Fonte: Assessoria de Imprensa



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