OMS estima que até 2050 resistência bacteriana cause 10mi de mortes/ano
24/11/2020
Uma das maiores ameaças à saúde pública contemporânea, tanto em países desenvolvidos quanto subdesenvolvidos, é a resistência antimicrobiana, e estima-se que ela cause cerca de 700 mil mortes todos os anos, como cita o documento “Saúde e Política Externa: os 20 anos da Assessoria de Assuntos Internacionais de Saúde”, editado pelo Ministério da Saúde no ano de 2018. O fenômeno ocorre quando bactérias, fungos, vírus e parasitas sofrem mutações genéticas e acabam adquirindo resistência a medicamentos aplicados para combatê-los. Tornando, desta forma, os medicamentos ineficazes; as infecções, persistentes e até incuráveis; e o tratamento sem resultado. A previsão é de que, até 2050, dez milhões de óbitos anuais serão atribuídos à resistência antimicrobiana, o que significa mais mortes do que o câncer, e o efeito para a economia global será de aproximadamente US$ 100 trilhões, como estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Por isso, a OMS promove anualmente, entre os dias 18 e 24 de novembro, a Semana Mundial de Conscientização sobre o Uso de Antibióticos, que tem como objetivo sensibilizar o público em geral, trabalhadores da saúde e formuladores de políticas para que promovam melhores práticas sobre o tema com o intuito de evitar o surgimento e disseminação da resistência ao medicamento. A ascensão da resistência bacteriana se dá pelo uso excessivo de antibióticos, uma das classes de medicamentos mais prescritas e dispensadas para uso terapêutico e profilático em todo o mundo.
Algumas causas são a intensificação da prescrição desse tipo de medicamento a pacientes, inclusive em situações em que poderia haver um tratamento alternativo, como afirma a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) na folha informativa que trata sobre o assunto, e a facilidade de acesso da população a eles, diante da ausência de medidas de restrição e controle de receituário em alguns países.
Por outro lado, em países onde o acesso aos serviços de saúde e fornecimento de medicamentos é limitado, a automedicação e o consumo de remédios oriundos do mercado informal, com preservação ou origem suspeita, também é uma ameaça. Diante desses cenários, desenha-se uma era pós-antibióticos em que infecções comuns e ferimentos leves com tratamentos já dominados pela medicina moderna podem voltar a matar.
"É a bactéria que se torna resistente ao antibiótico e não o indivíduo. O impacto é sobre toda a sociedade, por isso, é fundamental o engajamento de todos com a causa. Usar antibiótico somente quando o médico recomendar e seguir a prescrição corretamente são medidas que ajudam a evitar que surjam as chamadas ‘superbactérias’", explica a Dra. Elisama Baisch, otorrinolaringologista, gerente médica da GSK, empresa global de saúde com foco em ciência e que tem como propósito ajudar as pessoas a fazerem mais, sentirem-se melhores e viverem mais.
A médica destaca alguns cuidados simples, porém, importantes, que todos podem tomar para se prevenir, como por exemplo, respeitar a dosagem do medicamento recomendado pelo médico; cumprir os dias de uso prescritos mesmo que os sintomas tenham desaparecido, pois, é importante completar o ciclo prescrito; observar a validade e o estado de conservação do medicamento; atentar para a qualidade do antibiótico; e não compartilhar receitas ou medicamentos.
IMPACTOS DO MAU USO DOS ANTIBIÓTICOS
A lista de doenças tratadas atualmente com antimicrobianos, mas, que podem se tornar intratáveis com aumento da resistência dos agentes causadores é extensa, e inclui pneumonia, tuberculose, sepse, amigdalite e infecções urinária, alimentar, respiratória ou sexualmente transmissíveis, como alertam a OMS e a Fiocruz, esta última, em uma notícia publicada no site da instituição com o título: “Antibióticos: resistência de microrganismos é grave ameaça à saúde global”.
Tais medicamentos significam, ainda, de acordo com a OPAS, a otimização da recuperação de pacientes que passaram por transplantes de órgãos, quimioterapia e cirurgias como a cesárea - procedimentos que podem voltar a se tornar mais perigosos. O grande impacto da resistência bacteriana é colocar as conquistas da medicina moderna em risco, uma vez que o fenômeno é mais rápido do que o desenvolvimento de novos fármacos.
"No escopo da saúde, as principais consequências de bactérias resistentes são o aumento da morbidade e da mortalidade. As internações hospitalares se prolongam, as terapias profiláticas se tornam menos efetivas, e os custos de tratamento se elevam, gerando impacto financeiro considerável aos sistemas de saúde e às pessoas. Veremos algumas doenças com o tratamento dominado pela medicina voltarem a afetar a qualidade de vida das famílias e a fazerem vítimas", pontua a Dra. Elisama Baisch.
ANTIBIÓTICOS E COVID-19
Com o surgimento recente e pouco conhecimento sobre a COVID-19, tratamentos experimentais e automedicação com antibióticos foram aplicados contra a doença, porém, sem o aval científico, como informou a publicação da Fiocruz no ar intitulada “Covid-19 e a automedicação de antibióticos: uma combinação perigosa”. Atenta à chance de alta nas taxas de resistência de bactérias durante a pandemia, a OMS orienta que esse tipo de medicamento não seja fornecido a pacientes com sintomas leves de Covid-19, em casos suspeitos ou confirmados, a menos que haja uma indicação clínica para fazê-lo.
"A Covid-19 é causada por um vírus, o coronavírus (SARS-CoV-2), e não por uma bactéria. Por isso, não há indicação de tratamento para a doença com antibióticos. Eles não terão efeito. Situações como essa propiciam o fortalecimento de superbactérias e comprometem a saúde pública. Uma evidência da gravidade do cenário é que estudos indicam que, já este ano, a resistência a antimicrobianos somará 130 mil mortes a mais do que a COVID-19 causará", alerta a Dra. Elisama Baisch.
A administração de antibióticos é prescrita por médicos a pacientes com a COVID-19 somente em casos graves, quando há uma co-infecção bacteriana, caso contrário, se revelam um tratamento ineficaz, além do risco de poderem não funcionar devidamente em uma eventual infecção bacteriana futura, por a bactéria já ter adquirido resistência àquele medicamento, como alertam a OPAS e a Fiocruz em publicações sobre o assunto.
OUTROS CUIDADOS
Além da prescrição e uso consciente de antibióticos por parte de médicos e cidadãos para evitar a resistência bacteriana, os cuidados de assepsia em hospitais também são importantes, já que são locais propícios para esse tipo de fenômeno, onde de 50% a 60% dos medicamentos utilizados são antibióticos, como informa a Dra. Neusa de Queiroz Santos, no artigo “A resistência bacteriana no contexto da infecção hospitalar”. O cumprimento de medidas de controle de infecção hospitalar - como a lavagem das mãos, uso de EPIs, e esterilização de instrumentos - ajudam a minimizar a emergência de bactérias resistentes.
Outras indicações da OMS aos países para evitar a resistência a antibióticos são: expandir a rede de saneamento básico; consumir apenas água potável; lavar bem os alimentos; vacinar-se; e racionalizar o uso de antimicrobianos no setor agropecuário.
"As indústrias farmacêuticas também precisam contribuir na busca por alternativas aos antimicrobianos já existentes. Temos frentes de pesquisas para desenvolvimento de uma nova geração de antibióticos que possa substituir os que são usados hoje, mas, que encontram resistência de algumas bactérias ou outros microrganismos. Na GSK temos equipes exclusivas para os estudos, que contam com a colaboração de outros cientistas, e desenvolvemos programas de conscientização e monitoramento do uso racional de antibióticos", indicou a Dra. Elisama Baisch.
Fonte: Assessoria de Comunicação da GSK.